quinta-feira, 27 de abril de 2017

Coração tatuado -Capítulo onze


Ele saiu e bateu a porta da sala e eu fiquei ali simplesmente estática porque não sabia o que fazer. Sentei-me de costas para porta da sala e chorei tudo que tinha prendido durante aquela semana, toda falta que eu sentia, todo medo de perdê-lo para sempre, toda culpa de tê-lo afastá-lo da minha vida e principalmente da vida da minha filha.

Como todas aquelas verdades que há anos eu neguei criaram vida na fala do John e me atingiram com um soco perverso. Sentia meu coração doer, uma dor cortante me dilacerava por dentro. Eu afastei o amor da minha vida! Era isso que minha mente gritava a todo tempo. A culpa era mim, só minha e do meu orgulho, só minha ...

Ouvi duas batidas na porta e levantei limpando as lágrimas, respirei fundo tentando criar coragem para enfrentar seja lá quem fosse. Abri a porta e lá estava ele com o rosto banhado em lágrima o que fez meu coração se apertar ainda mais.

-O que foi? –perguntei e por mais que não quisesse ser grossa foi exatamente assim que as palavras saíram.

-Desculpa, desculpa, desculpa... –Falou me apertando contra seu corpo. –Eu não queria te culpar, te magoar ou muito menos te deixar triste. –Falava rápido demais.

-Calma! –falei me afastando do abraço limpando ainda algumas lágrimas que caiam.

-Eu juro que tão queria te acusar ou te culpar eu só queria que soubesse que não foi culpa minha não ter voltado antes.

-Eu sei. –Falei sincera.

-Não, não sabe. –falou segurando minha mão e sentando de frente para mim no sofá da sala.

-O que está fazendo John? –perguntei surpresa com a atitude dele.

-Meus pais me ameaçaram, disseram que se eu continuasse a manter contato com você mandaria te matar, você e sua mãe. Eu sei que parece covarde, mas eu sei do que eles são capazes.

-Tudo bem John, agora já passou. –Falei séria dizendo qualquer coisa diante daquela explicação que ele acabara de me dar.

- Casa comigo? Eu juro que eu vou me esforçar para te fazer feliz, para cuidar de você e da Mel, para nos tornarmos uma família feliz. Nathy eu não sei viver sem você, eu não sei respirar sem você é como se a minha existência só fizesse sentido por sua causa, como se Deus te colocasse na minha vida para me ensinar a viver, é isso que eu sinto desde que te vi pela primeira vez.

-Eu... eu... eu não sei o que dizer. –Falei completamente nervosa e confusa.

-Só diz que sim, por favor! –Falou implorando.

E ali diante dos meus olhos eu enxerguei o quanto aquele homem me amava, nas lágrimas que escorriam dos seus olhos, no aperto que dava em minhas mãos e no pedido desesperado que me fazia. Ele estava deixando o orgulho de lado, deixando a masculinidade, o machismo e estava me pedindo pra ficar com ele.

-Eu sonhei a vida inteira em construir uma família, em ser esposa, mãe, dona de casa, de um lar onde Deus fosse o centro de tudo. Eu sempre busquei encontrar alguém especial alguém que pudesse ser o pai dos meus filhos, achei não ser possível até que eu te encontrei. John, eu te amei desde o primeiro dia, desde o primeiro beijo e lhe amei ainda mais quando peguei em meus braços o melhor presente que você poderia ter me dado, eu não poderia  ter escolhido pai melhor para minha filha. Eu quero formar essa família como você, quero ser sua esposa, sua amante, sua cúmplice, quero voltar a ser sua  melhor amiga de dez anos atrás. Eu aceito!



Ele me envolveu num abraço e me beijou de forma desesperada como se tivéssemos longe por anos e acho que era essa sensação que nós dois tínhamos naquele momento. Aquele beijo era o encontro do John, o menino magrelo e alto dos olhos castanhos e o sorriso mais lindo do mundo e da   Nathalie, menina magrela e esguia  de olhos verdes tão expressivos quanto os cabelos loiros caídos pelas costa. 

Não éramos naquele momento Dr. e Dra., não éramos pais, não éramos si quer adultos, éramos apenas dois adolescentes  que se encontroou depois de anos, que redescobriu o amor, que descobriu que o primeiro amor é uma tatuagem que não se apaga com o tempo e no nosso caso éramos dois em um, um coração tatuado.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

CARTA PARA ALGUÉM QUE ESTÁ SOFRENDO

Por que esperar tanto de alguém? Por que esperar por alguém? Alguém que elogie seu cabelo, a nova tintura que você usou ou mesmo o penteado diferente. Por que esperar que alguém lhe diga o quanto é bonita e o quanto os seus olhos são lindos?. Por que simplesmente quer que alguém te note e perceba o quanto você é uma pessoa especial? Por que desejar que alguém te entenda, que alguém te veja, ou melhor, que alguém te enxergue?.
Não serei hipócrita ao escrever esse texto e dizer que não me importo com a opinião alheia porque infelizmente ainda me importo. Mas vou te pedir uma coisa, só uma coisa, seja você o alguém que procura nos outros. Ninguém pode lhe entender tão bem como você mesma, ninguém pode lhe dar um melhor conselho do que você mesma, ninguém é melhor para te achar bonita do que você mesma, ninguém pode e consegue mensurar sua dor. Sabe, você é incrível e sabe disso, sabe que tentar ser forte ou a boazinha não define quem você é.
Você é mais do que um par de olhos bonitos, ou um cabelo sedoso e bem cuidado, você é mais que pernas e bumbum perfeitos, é mais do que alguém depressivo, é mais do que alguém que foi abusado, é mais do que alguém que traz do corpo e na alma cicatrizes. Talvez espere assim como eu encontrar alguém que consiga te enxergar por dentro, alguém que entenda que mesmo sendo essa mulher forte e decida você é frágil apenas uma menina perdida querendo se encontra, querendo ser encontrada, querendo ser aceita, querendo ser notada.
Sim, eu sei a solidão é um sentimento horrível, mas vá por mim você é melhor do que acha, mas importantes do quê imagina e mais forte do que demonstra ser. Eu acredito em você, Deus acredita em você.Diferente de mim que sou falha, que talvez não seja tão boa amiga, filha, líder, ou pessoa. Deus é. Deus é o melhor pai que alguém pode ter, é o melhor líder, é o melhor conselheiro, é o melhor médico, professor, é o melhor tudo. Mas sem dúvidas é o melhor amigo que alguém pode ter.
Eu fui uma criança depressiva, entre os 10-11 anos de idade eu tive uma crise de depressão, eu não sabia o que fazer ou porque estava assim, apenas chorava pelos cantos, deixei de ser alegre espontânea e carinhosa, me fechei no meu mundo que era apenas de dor. Eu sofria porque o meu pai tinha ido morar em outro estado, sofria porque via minha mãe sofrer, sofria porque eu não fazia parte do padrão, eu não me encaixava. Eu era uma menina gorda, cacheada, tinha dentes falhados e era cristã. Ir na igreja para mim nessa época era apenas uma obrigação, eu tinha que me comportar bem, não podia participar das festas porque era cristã, não era aceita porque era cristã e não era feliz pelo mesmo motivo.
Deus nunca fez mal a mim, pelo contrario mesmo sem eu ver ou sentir Ele estava comigo, Ele estava me guardando. Eu encontrei a ajuda de uma tia da escolinha da igreja e Deus usou ela de algum modo para me fazer superar essa fase e eu consegui. Mas ai os anos foram passando e eu continuava não me aceitando, não gostando de mim, me aprisionando numa bolha de inferioridade e fiquei presa nela por muito tempo.
Um dia lendo a bíblia e ouvindo pregações sobre o amor de Deus eu comecei a entender um pouco e não só isso eu senti esse amor. Senti que apesar de tudo Ele estava comigo e que ele me amava mesmo assim, mesmo sabendo dos meus defeitos, mesmo sabendo das minhas falhas, mesmo sabendo o quando eu me culpava. Deus usou o meu cabelo para despertar o amor próprio em mim, hoje eu me amo, amo meu corpo, meu cabelo, minhas marcas, minhas cicatrizes, amo quem eu sou, quem eu sou por fora e mais ainda quem Deus tem me tornado por dentro.
Eu sei o que é sentir uma dor enorme no peito e não saber como contar e pior não ter a quem contar. Eu sei o que é se achar inferior e pior do que as outras pessoas, eu sei o quanto doe não ser aceitar, não ter amigos, não ser feliz. Mas assim como Deus mudou a minha vida Ele tem poder para mudar a sua história. Mutilação não é saída para dor, porque uma hora ou outra ela vai voltar e pior, as marcas vão continuar ali. Suicídio não é a Saída, a vida é muito mais importante e muito melhor do que a dor que você sente. Deus é o remédio, ele é a saída Ele foi a minha saída.
Talvez a dor que você sinta seja indescritível, talvez a culpa que você carregue seja extremamente pesada, talvez simplesmente você pense que sua vida não faz sentido, que para você não tem jeito, não tem solução, não tem saída. Embora eu não consiga sentir a dor que talvez você esteja sentindo, Deus sente e sabe exatamente como você se sente e por isso ele me fez escrever esse texto para te dizer: FILHA (o) EU TE AMO! E Ele não ama com um amor condicional, mas com um amor incondicional, imensurável, indescritível. Deixe Ele te curar, o deixe sarar você, o deixe acalmar essa tempestade dentro de você.
OBS: Eu não posso fazer muito, mas se você esta lendo esse texto e se sente assim, perdido, sem apoio. Saiba que pode contar comigo, me procure, mande mensagem no Facebook, no blog, na minha pagina do Facebook ou no meu e-mail, mas não se sinta só eu quero ajudar você.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Capítulo dez


Não era apenas uma abraço, era paz para o meu coração, era calmaria. Mesmo lhe odiando naquele momento, não tinha outro lugar no mundo em que eu gostaria de estar, era ali dentro daquele abraço casa que minha vida parecia ter um pouco mais de sentido.
John. o Peter na verdade era o meu John e isso deveria ser aterrorizante, mas para era maravilhoso. Tirava das minhas costas o peso de estar com alguém por amar os traços que ela tinha de outro alguém.Eu queria simplesmente olhar para ele e o odiar, odiar por um dia ter me abandonado, por ter me deixado sozinha, por ter mentido para mim, por ter feito novamente eu me apaixonar, mas eu não conseguia.

Meu celular tocou e eu agradeci internamente a Deus por me dar a
oportunidade de parar de pensar no John e na forma louca que sai correndo de sua casa uma semana antes depois daquele abraço que nunca deveria ter 
acontecido, atendi o celular:

-Nathy!

-Oi Aline já estou chegando. –Falei justificando meu atraso ela tinha dormido lá, mas prometi o dia de folga.

-Não é isso, é que a Mel não está bem. –Ela falou aparentando estar nervosa.

-O que tem a minha filha?

-Ela está com febre muito alta dei aquele remédio que você me falou, mas não
fez efeito.

-Pede um táxi e trás ela para cá Aline vou está esperando na entrada.

Eu não podia nem pensar em ver minha filha num leito de hospital novamente,
mas naquela ultima semana eu sentia que ela estava estranha, calada e triste.

-Dra. A babá da sua filha chegou. –Jacy falou entrando na minha sala.

-Obrigada! –falei saindo ao encontro da minha filha.

Peguei ela no colo e embora já seus nove quase dez anos de idade a Mel
nunca engordou muito e não era tão pesada quanto as outras crianças de sua
idade. Ela estava muito quente e eu estava nervosa por isso decidi não
examiná-la e levei-a para Daniela uma excelente clinico geral​.

-Você já sabe os procedimentos Dra. Vamos medicá-la e fazer alguns exames.
Fiquei na enfermaria com a Mel que dormia e não demorou muito o exame de sangue chegou e a Dra. Veio até nós.

-Não vejo problema algum com ela, veja só os resultados. –ela me estende o
resultado do exames e eu os analiso minuciosamente realmente atestando que ela não tem nada.

-A febre não veio acompanhada de outros sintomas como dor de cabeça, gripe ou garganta inflamada, segundo a babá ela apenas estava triste. –Falei.

-Parece que essa é única explicação para isso Dra.

-O quê?-perguntei sem entender.

-Febre emocional, algo lhe afetou muito profundamente e o corpo reagiu dessa
forma. –Odeio ter que concordar com a Dra. Daniela mais não existia outra
explicação além dessa.

Desde que eu briguei com o John não nos vimos mais e automaticamente a
Mel também não o viu mais mesmo que ele me mandasse mensagens todos os
dias pedindo para ver a filha e pedindo para que eu deixasse ele contar a
verdade para ela. Eu me sentia culpada por ver minha filha tão triste a ponto de
adoecer por falta da presença do pai que para ela ainda continua sendo o pai
de mentirinha.

Resolvo quebrar o meu orgulho e mandar uma mensagem para ele, não era 
mais entre ele e eu, a minha filha precisava dele e eu não poderia fingir o
contrário.

-John?

-Oi Nathalie.

-Não pense que te perdoei. Só quero te pedir encarecidamente que venha ver a
Mel, ela está doente.

-Claro que sim, tentei te convencer a vê-la, mas você não permitiu.

-Eu sei, não tente me deixar ainda mais culpada.

-O que ela tem?

-Febre emocional, ela se apegou a você e está sentindo sua falta.

***
Em meia hora alguém bate na porta e lá esta ele mais lindo e cheiroso do que
nunca. Droga! Eu continuo apaixonada por ele. Minha mente me denunciava
enquanto dava passagem para que entrasse.

-Ela está no quarto, pode entrar. –falei antes que ele puxasse uma conversa e
eu não soubesse como reagir.

Ele não respondeu apenas caminhou em direção ao quarto da minha filha e eu
apenas fiquei observando através da porta entreaberta.

-Mel?

-Pai! –Ela grita enquanto ele a abraça forte. –Estava com saudades de você. –
Diz fazendo meu coração se apertar de arrependimento por não ter deixado o John vim visitá-la.

-Eu também estava morrendo de saudades de você, mas não pude vim te ver esses dias.

-Por quê? Eu sou uma filha ruim? –pergunta enquanto ele a encara com um
sorriso lindo no rosto.

-Claro que não meu amor, você é a melhor filha do mundo!

-Então o que foi?

-Eu e a sua mãe brigamos.

-por quê? –pergunta enquanto segura as mãos do pai como se tivesse medo
de perdê-lo.

-Eu magoei muito a sua mãe, infelizmente eu menti sobre algo muito
importante e ela ficou chateada comigo.

-Foi por causa de mim? –Ela pergunta.

-Não Mel! Eu apenas não fui um cara legal como ela merecia.

-O que você fez?

-bom, eu tenho que te contar uma coisa e isso vai te explicar o porquê eu e sua
mãe brigamos.

Meu coração estava batendo completamente descompassado e eu juro quenaquele momento desaprendi a respirar. Ele estava prestes a contar a verdade para ela e embora eu quisesse o impedir de fazer isso seria muito melhor ela saber disso por ele do que por mim.

-O quê?

-Lembra do seu pai de verdade que a sua mãe de falou?

-O que mora na Espanha e não sabe que eu existo? –pergunta com
naturalidade não se dando conta do quanto sua história de vida é complicada.
-Esse mesmo, ele voltou para o Brasil.

Então eu vou conhecer o meu pai de verdade?

-você já conhece ele Mel.

-conheço?

-Sim, eu sou seu pai de verdade Mel. – Ele disse e ela ficou surpresa e colocou
as duas mãozinhas cobrindo a boca.

-Desculpa por ter mentido para você eu não queria te magoar, eu só queria me
aproximar de você e da sua mãe...

-Não magoou pai, eu amo você. –Ela falou o interrompendo lhe envolvendo
num abraço. –Você é o melhor pai de verdade!

Minha filha mostrava toda sua inocência em momentos assim onde assim
como eu poderia ter ficado chateada ou chorado, mas apenas o aceita. Com
Deus é assim, Ele sabe o quanto erramos e o quanto o desagradamos, mas
mesmo tendo todos os motivos para se chatear simplesmente lhe abraça e diz
que te ama.

-John? –Chamei entrando no quarto.

-Desculpa Nathalie eu contei para ela. –falou se explicando.

-Não tem problemas ela tinha que saber disso logo. –falei.

-Já está tarde Mel hora de dormir. –falei beijando o topo de sua cabeça.

-Mas eu não quero dormir, quero ficar aqui como meu pai de verdade. –falou
rindo acho que pela primeira vez ela tinha se dado conta disso. Eu ri também.

-Eu sei meu amor, mas você vai ter muito tempo para ver o seu pai.

-E você não vai mais brigar com ele? Vai fazer as pazes com ele?

-Eu e o seu pai somos adultos Mel nós nos entendemos, ele nunca vai deixar
de ser seu pai e nunca vai deixar de te amar mesmo que a gente não fique
juntos.

-Sua mãe tem razão Mel, você não precisa ter medo eu vou continuar te
amando e vindo te ver sempre. –Falou beijando sua testa. –mas agora você
precisa dormir, já está tarde.

-Você fica aqui até eu dormir? –pediu.
Ele me encarou me implorando com os olhos para ficar. Ah Deus! Porque tinha
que ser tão lindo?

-Pode! –Falei.

Beijei a cabeça dela e desejei boa noite. Sentei no sofá da sala respirando bem
fundo tentando conter as lágrimas. Eu o queria bem perto de mim, queria unir
nossas vidas ser uma família como planejamos anos antes, como plantei com o Peter, mas eu ainda estava magoada, ainda não conseguia o perdoar.

-Nathalie! –ouvi-lo chamar meu nome 
deveria ser algo normal, mas na voz dele
e como ele me chama parecia ser a coisa mais linda do mundo. Droga!

-Sim. Ela dormiu?

-Dormiu sim, eu...

-Já está de saída! -Falei tentando ser o mais dura que conseguia ser.

-Eu já vou indo, mas queria te dizer algo.

-Fale!

-Eu quero registrar a Mel, quero que ela tenha o meu nome.

-Porque isso agora?

-Ela é minha filha Nathalie e eu tenho​ o direito de colocar o meu nome no registro de nascimento dela.

-Tem o direito? -falei rindo sarcasticamente. -Depois de dez anos?

-Eu não sabia da existência dela, e você mais do que ninguém sabe disso. O que está tentando fazer? Me deixar mais culpado?

-Tchau John! -Falei séria.

-Eu preciso que me escute Nathalie. Será que dá para me ouvir ao menos um instante.

-O que​ você quer dizer? Que se arrependeu de ter me enganado e mentindo para mim? Você já disse. Até quando vai ficar se justificando?.

-Pelo amor de Deus Nathalie! Em momento algum justufuquei o o meu erro, eu menti sim e já pedi perdão por isso. Eu só quero te pedir uma chance para fazer tudo diferente agora.

-Eu não quero saber John, você teve sua chance de dizer a verdade é o que fez? me iludiu, mentiu para mim.

-Sabe qual o seu problema? -perguntou me encarando.

-Qual?

-Você se vitimiza muito! -Disse sério.

Eu apenas o encarei queria saber onde ele queria chegar com aquela história de vitimização.

-O seu problema é achar que só você sofreu na vida, que as circunstâncias ruins só lhe atingiram. Nathalie eu sofri tanto quanto você.

-Você não pode mensurar a dor que senti e que tenho sentido, John.

-Verdade. Mas sabe o que eu posso dizer é que você sempre teve apoio enquanto eu estava sozinho no mundo.

-Você está brincando comigo não é? Você tem pais, tem uma irmã, sempre teve dinheiro, uma boa educação. Eu nunca tive nada disso, eu não sei o que é ter um pai, o que é ter irmãos a minha única família foi tirada de mim por uma doença maldita, eu perdi a minha mãe John, eu nunca tive Dinheiro, estudei a vida inteira em escolas precárias e com muito esforço estudei em uma universidade federal. E você me diz que eu tive tudo?

-Teve sim, eu sempre tive dinheiro, mas Isso nunca me fez feliz, eu tenho uma irmã que por muitos anos foi uma completa estranha e meus pais?. -Parou de falar rindo triste.- Eu sou para eles apenas um protótipo de filho perfeito que falhou, eles nunca me deram amor, nunca me disseram "eu te amo" enquanto você teve uma mãe que te amou muito, que cuidou de você e fez tudo que estava ao seu alcance para te dar o melhor...

-E o que me diz dos nove meses de gestação sozinha, eu tive em risco de morrer por causa da minha filha.  Eu fiquei noites​ e noites em claro, eu fiquei dias em um hospital quando ela esteve doente, eu tive que engolir o choro, tive que ser forte, tive que ser uma heroína para dar conta de tudo sozinha. Eu não estou me vitimizando!.

-Está sim, eu também sofri muito pelo  peso de saber que deixei para trás o grande amor da minha vida. E quando consegui falar com a Milena e ela me disse que você estava ótima e que eu  deveria te esquecer eu quase morri de depressão. Se Deus não usasse pessoas para me ajudar eu com certeza​ teria morrido. -Falou com lágrimas nos olhos, eu não sabia que ele tinha tido depressão.

-Você não pode me culpar disso. -Falei.

-Eu posso sim! Você me culpou durante todos esses anos por ter te deixado sozinha, por não ter voltado quanto prometi. Mas eu tentei, eu liguei para Milena e você disse para ela dizer aquelas palavras para mim. Você me culpa por algo que você cometeu.

-Teria mudado algo se você tivesse voltado? Eu seria taxada de aproveitadora, seria apenas interesseira.

-Foi por orgulho Nathalie! Por orgulho que você me afastou da sua vida, você me excluiu da vida da Mel. E nem por isso eu deixei de assumir meus erros e te querer te volta. Porque eu acredito no amor Nathalie, no amor que cura, que perdoa e que esquece.

Eu não sabia o que dizer em poucas palavras ele me fez enxergar o quão culpada pela minha infelicidade durante anos eu fui, o quão egoísta, o quão prepotente eu fui. Eu não sabia o que dizer, ele simplesmente me deixou sem palavras.

-Não vou pedir perdão por ter te falado essas coisas, eu precisava que você entendesse isso. Eu amo você e quero passar por cima de tudo isso, mas eu preciso que você também queira.




Continua...

domingo, 2 de abril de 2017

Coração tatuado -Capítulo nove


Sai do plantão no inicio da manhã e como o apartamento dele fica no caminho de casa decidi passar por lá  primeiro. Fui na padaria e comprei coisas para tomarmos café juntos e como o porteiro me conhecia eu subi sem interfonar.
Toquei a campainha e fiquei aguardado foi então que tive a primeira das decepções daquela manhã.

-Anne! –falei surpresa ao vê-la ali num hobby azul marinho e pantufas ao abri a porta.

- Nathalie! –falou esbanjando um sorriso largo.

-O que está fazendo aqui? –Perguntei implorando a Deus para não ser o que eu estava pensando.

-Ele não te contou? –falou rindo o que só fez minha raiva aumentar.

Entrei no apartamento e comecei a gritar por ele.

-Peter! Peter!... –Sai gritando com certeza acordando os moradores do prédio.

-Nathalie! –Falou surpreso ao me ver, ele estava de roupão saindo do banheiro.

-Eu não acredito! –Falei gritando tendo certeza do que eu estava pensando.

-Calma não é nada disso que você está pensando.

-Ah não? E o que ela faz aqui? E com esses trajes?

-Você não contou para ela ainda? –Ela falou.

-Cala boca Anne ! –ele gritou com ela.

-Fala logo, o que tem a me dizer. –Disse tentando manter minha postura.

-Primeiro você precisa se acalmar. –Falou segurando meus braços.

-Me solta! –falei puxando meu braço de suas mãos. –Eu não quero me acalmar.

-Eu preciso que você se acalme.

-Eu já falei que não quero me acalmar e fala logo! –disse aos berros.

-Ela é minha irmã! –Falou.

-Ela não pode ser sua irmã, ela é irmã do John! –Falei sem acreditar no que tinha ouvido.

-Mas ela é minha irmã.

-Eu não acredito que você fez isso comigo. –As lágrimas já faziam o trajeto do meu rosto.

-Se acalma. –Falou segurando meu rosto.

-Me solta! Eu não acredito! Não acredito! –falei em pânico e só então  me lembrei da prova 
da nossa história.

Ele estava de frente para mim me observando com lágrima nos olhos e abri o roupão na parte de cima enquanto ele tentava me conter, e lá estava ele o coração tatuado que representava nosso amor. Nós fizemos aquela tatuagem no mesmo dia em que eu perdi minha virgindade e engravidei da Mel. Um coração acima do peito esquerdo dele e no mesmo lugar em mim, uma tatuagem pequena, mas que representava tanta coisa para nós,  ou pelo menos para mim.

Ao ver a tatuagem minha ficha caiu e eu tive clareza de tudo que me aconteceu nos últimos meses, ele não mentiu  totalmente o nome dele realmente era Peter, John Peter (João Pedro que era o nome do avó dele) como os pais dele moravam nos estados unidos quando ele nasceu deram o nome do avó em inglês. Tinha sido o John o tempo inteiro e eu não conseguia me perdoar por ter sido traída mais uma vez.

-Porque você fez isso comigo John, Peter sei lá?!  Eu não merecia isso.

-Me perdoa Nathalie eu só queria me aproximar de você, eu voltei para o Brasil e quando cheguei eu resolvi procurar por você eu nunca tive ninguém, pelo menos nunca amei alguém como eu te amo.

-Eu não quero ouvir suas desculpas, você mentiu para mim, você mentiu para minha filha.

-Eu juro que eu não sabia da Mel. Quando eu cheguei no Brasil eu fui procurar um hospital para trabalhar e lá o Dr. Clovis acabou me falando de você e da excelente profissional que você é e só quando te vi lá no hospital eu soube que era você, mas não sabia da Mel só soube quanto te encontrei na igreja e por isso fiquei surpreso. Eu fiquei triste em saber que você tinha seguido sua vida e tido uma filha, mas quando encarei a Mel tive certeza de que ela não poderia ser filha de outra pessoa além de mim.

-Porque não me disse a verdade, porque continuou me enganando? Pior, você enganou minha filha ela te ama e nem sabe que você não é só o pai de mentira dela é o pai que ela sempre sonhou em conhecer.

-Nathalie eu ia contar a verdade para vocês, eu tentei várias vezes, mas eu perdia a coragem ao imaginar a decepção que encontraria em seus olhos como vejo agora.

-Isso não justifica! Eu merecia saber a verdade.

-Eu sei disso! Não acha que eu me culpo todos os dias por isso? Eu te amo Nathalie.

-Não John, quem ama não mente, não magoa, não despedaça o coração do outro.

-Quem ama também falha Nathalie, quem ama é um ser humano imperfeito não que isso 
justifique meus erros, mas é um equivoco achar que só porque amamos temos o controle de tudo até mesmo de magoar ou não o outro. Eu te amo e isso é algo que você acreditando ou não, não irá mudar.

-Por favor John sem palavras bonitas isso não vai me convencer, o que você acha? Que com meia dúzia de palavra bonitas vai me conquistar? –Perguntei enraivecida.

****
Por John Peter
Aquela mulher que estava na minha frente enraivecida e gritando não se parecia em nada 

com a Nathy do Peter. Mesmo sendo improvável e louco aquela ironia e raiva fazia com que eu me lembrasse dela a dez anos antes, quando era apenas uma adolescente mandona e brava que brigava comigo a cada cinco minutos e tinha ciúmes até mesmo da própria sombra.

-Para de rir! Eu não sou uma palhaça!. –disse séria e mandona.

-Eu sei! –disse tentando controlar o riso. Aquela era a minha Nathy, a Nathy do John e não do Peter.

Foram três meses o prazo que meus pais me deram para que eu mantivesse o contato com a Nathalie, me disseram que depois disso eu não poderia falar mais com ela ou eles mandariam alguém dar um fim nela e na sua mãe que era a única família que ela tinha. Eu sabia do que meus pais eram capazes de fazer para alcançar seus objetivos e o deles era ter um filho médico, dono de um hospital e casado com uma “mulher de classe” o que segundo eles ela não era.

Eu aproveitei cada segundo daqueles três meses em que podia ouvir sua voz, ou ler seus emails, eu não podia dizer a verdade para ela ou ariscaria sua vida e família. Foi horrível ver seus emails chegando na minha caixa de entrada e não poder respondê-la, ver sua cartas chegando e não poder lhe enviar uma resposta. Com o passar dos tempos eles diminuíram e deixaram de chegar eu tive certeza de que ela me odiava e que nunca mais iria olhar em meus olhos.

Depois de um ano consegui ligar para Milena sem que meus pais soubessem e ela me disse que a Nathalie estava bem e que não precisava mais de mim, senti tanto rancor nas palavras da minha prima e imaginei o quanto a minha Nathy estava decepcionada comigo. Os anos que se seguiram me fizeram encontrar Jesus o que sem dúvida foi o que impulsionou a quebrar esse vinculo abusivo que meus pais ainda tinha comigo e vir atrás do amor da minha vida.

Eu  sabia que ela poderia estar bem, casada e com filhos, mas também poderia ser que não. Eu nunca consegui ter outros relacionamentos era como se eu estivesse traindo ela e 
de alguma forma eu tentava acreditar que ela fazia o mesmo por mim.

Quando cheguei ao Brasil eu primeiro quis me estabilizar, tinha cortado todo vinculo com meus pais e eles me desligaram do hospital em que eu administrava então eu precisava me estabilizar financeiramente. Assim que fui contratado e fui apresentado aos médicos do hospital o Dr. Clovis me falou muito de sua melhor médica, lhe elogiou tanto que imaginei ser impossível ser real alguém com tantas características. Mas quando entrei em sua sala e olhei seus olhos verdades tive certeza de que ela era a minha Nathy.

Os anos tinham sido duros para mim e a mudanças físicas acompanharam as interiores. Eu não era mais um  garoto magro, de riso fácil eu tinha crescido mais, estava bem mais forte, mais maduro e eu sabia que ela não me reconheceria. Mas eu não tive duvidas de que ela era a dona do meu coração, os olhos verdes ainda eram os mesmos com exceção do brilho que não existia mais, os cabelos loiros mais compridos presos num rabo de cavalo, o rosto angelical ainda estava ali escondido na postura de uma médica exemplar, ela tinha ganhado um corpo cheio de curvas que mesmo o jaleco não escondia. Não era mais uma menina magra, com as bochechas rosadas do sol, mas  ainda era a minha Nathy.

-O que foi? Porque está me olhando assim? –ela perguntou enquanto minha cabeça fazia lembrar de todos os dias que passei pensando nela e de todos os momentos em que agradeci a Deus por tê-la do meu lado, mesmo por trás de uma mentira.

-Eu. Amo. Você. –falei segurando seu rosto entre as mãos e mesmo que naquele momento ela estivesse com raiva de mim eu sabia que era recíproco. –Eu menti e me arrependo por isso, mas nada, absolutamente nada que te disse como John ou como Peter foi mentira. Você é a mulher da minha vida, a mãe da minha filha, o motivo da minha alegria e Deus sabe que mesmo mentindo a minha única intenção foi te fazer feliz.

-Você tem noção de quantas vezes eu me culpei por ter ficado com o Peter porque eu via nele você? Você tem noção do quanto eu me senti mal por amar alguém porque ele me fazia lembrar você?  -Ela dizia com lágrimas nos olhos e eu tive outra reação a não ser abraça-la.


Ela tentou se afastar, mas nós dois sabíamos que nunca mais conseguiríamos viver distantes um do outro e mesmo que estivéssemos no meio de uma briga era o abraço dela que eu precisava e  era o meu que ela ansiava também. 
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