domingo, 2 de abril de 2017

Coração tatuado -Capítulo nove


Sai do plantão no inicio da manhã e como o apartamento dele fica no caminho de casa decidi passar por lá  primeiro. Fui na padaria e comprei coisas para tomarmos café juntos e como o porteiro me conhecia eu subi sem interfonar.
Toquei a campainha e fiquei aguardado foi então que tive a primeira das decepções daquela manhã.

-Anne! –falei surpresa ao vê-la ali num hobby azul marinho e pantufas ao abri a porta.

- Nathalie! –falou esbanjando um sorriso largo.

-O que está fazendo aqui? –Perguntei implorando a Deus para não ser o que eu estava pensando.

-Ele não te contou? –falou rindo o que só fez minha raiva aumentar.

Entrei no apartamento e comecei a gritar por ele.

-Peter! Peter!... –Sai gritando com certeza acordando os moradores do prédio.

-Nathalie! –Falou surpreso ao me ver, ele estava de roupão saindo do banheiro.

-Eu não acredito! –Falei gritando tendo certeza do que eu estava pensando.

-Calma não é nada disso que você está pensando.

-Ah não? E o que ela faz aqui? E com esses trajes?

-Você não contou para ela ainda? –Ela falou.

-Cala boca Anne ! –ele gritou com ela.

-Fala logo, o que tem a me dizer. –Disse tentando manter minha postura.

-Primeiro você precisa se acalmar. –Falou segurando meus braços.

-Me solta! –falei puxando meu braço de suas mãos. –Eu não quero me acalmar.

-Eu preciso que você se acalme.

-Eu já falei que não quero me acalmar e fala logo! –disse aos berros.

-Ela é minha irmã! –Falou.

-Ela não pode ser sua irmã, ela é irmã do John! –Falei sem acreditar no que tinha ouvido.

-Mas ela é minha irmã.

-Eu não acredito que você fez isso comigo. –As lágrimas já faziam o trajeto do meu rosto.

-Se acalma. –Falou segurando meu rosto.

-Me solta! Eu não acredito! Não acredito! –falei em pânico e só então  me lembrei da prova 
da nossa história.

Ele estava de frente para mim me observando com lágrima nos olhos e abri o roupão na parte de cima enquanto ele tentava me conter, e lá estava ele o coração tatuado que representava nosso amor. Nós fizemos aquela tatuagem no mesmo dia em que eu perdi minha virgindade e engravidei da Mel. Um coração acima do peito esquerdo dele e no mesmo lugar em mim, uma tatuagem pequena, mas que representava tanta coisa para nós,  ou pelo menos para mim.

Ao ver a tatuagem minha ficha caiu e eu tive clareza de tudo que me aconteceu nos últimos meses, ele não mentiu  totalmente o nome dele realmente era Peter, John Peter (João Pedro que era o nome do avó dele) como os pais dele moravam nos estados unidos quando ele nasceu deram o nome do avó em inglês. Tinha sido o John o tempo inteiro e eu não conseguia me perdoar por ter sido traída mais uma vez.

-Porque você fez isso comigo John, Peter sei lá?!  Eu não merecia isso.

-Me perdoa Nathalie eu só queria me aproximar de você, eu voltei para o Brasil e quando cheguei eu resolvi procurar por você eu nunca tive ninguém, pelo menos nunca amei alguém como eu te amo.

-Eu não quero ouvir suas desculpas, você mentiu para mim, você mentiu para minha filha.

-Eu juro que eu não sabia da Mel. Quando eu cheguei no Brasil eu fui procurar um hospital para trabalhar e lá o Dr. Clovis acabou me falando de você e da excelente profissional que você é e só quando te vi lá no hospital eu soube que era você, mas não sabia da Mel só soube quanto te encontrei na igreja e por isso fiquei surpreso. Eu fiquei triste em saber que você tinha seguido sua vida e tido uma filha, mas quando encarei a Mel tive certeza de que ela não poderia ser filha de outra pessoa além de mim.

-Porque não me disse a verdade, porque continuou me enganando? Pior, você enganou minha filha ela te ama e nem sabe que você não é só o pai de mentira dela é o pai que ela sempre sonhou em conhecer.

-Nathalie eu ia contar a verdade para vocês, eu tentei várias vezes, mas eu perdia a coragem ao imaginar a decepção que encontraria em seus olhos como vejo agora.

-Isso não justifica! Eu merecia saber a verdade.

-Eu sei disso! Não acha que eu me culpo todos os dias por isso? Eu te amo Nathalie.

-Não John, quem ama não mente, não magoa, não despedaça o coração do outro.

-Quem ama também falha Nathalie, quem ama é um ser humano imperfeito não que isso 
justifique meus erros, mas é um equivoco achar que só porque amamos temos o controle de tudo até mesmo de magoar ou não o outro. Eu te amo e isso é algo que você acreditando ou não, não irá mudar.

-Por favor John sem palavras bonitas isso não vai me convencer, o que você acha? Que com meia dúzia de palavra bonitas vai me conquistar? –Perguntei enraivecida.

****
Por John Peter
Aquela mulher que estava na minha frente enraivecida e gritando não se parecia em nada 

com a Nathy do Peter. Mesmo sendo improvável e louco aquela ironia e raiva fazia com que eu me lembrasse dela a dez anos antes, quando era apenas uma adolescente mandona e brava que brigava comigo a cada cinco minutos e tinha ciúmes até mesmo da própria sombra.

-Para de rir! Eu não sou uma palhaça!. –disse séria e mandona.

-Eu sei! –disse tentando controlar o riso. Aquela era a minha Nathy, a Nathy do John e não do Peter.

Foram três meses o prazo que meus pais me deram para que eu mantivesse o contato com a Nathalie, me disseram que depois disso eu não poderia falar mais com ela ou eles mandariam alguém dar um fim nela e na sua mãe que era a única família que ela tinha. Eu sabia do que meus pais eram capazes de fazer para alcançar seus objetivos e o deles era ter um filho médico, dono de um hospital e casado com uma “mulher de classe” o que segundo eles ela não era.

Eu aproveitei cada segundo daqueles três meses em que podia ouvir sua voz, ou ler seus emails, eu não podia dizer a verdade para ela ou ariscaria sua vida e família. Foi horrível ver seus emails chegando na minha caixa de entrada e não poder respondê-la, ver sua cartas chegando e não poder lhe enviar uma resposta. Com o passar dos tempos eles diminuíram e deixaram de chegar eu tive certeza de que ela me odiava e que nunca mais iria olhar em meus olhos.

Depois de um ano consegui ligar para Milena sem que meus pais soubessem e ela me disse que a Nathalie estava bem e que não precisava mais de mim, senti tanto rancor nas palavras da minha prima e imaginei o quanto a minha Nathy estava decepcionada comigo. Os anos que se seguiram me fizeram encontrar Jesus o que sem dúvida foi o que impulsionou a quebrar esse vinculo abusivo que meus pais ainda tinha comigo e vir atrás do amor da minha vida.

Eu  sabia que ela poderia estar bem, casada e com filhos, mas também poderia ser que não. Eu nunca consegui ter outros relacionamentos era como se eu estivesse traindo ela e 
de alguma forma eu tentava acreditar que ela fazia o mesmo por mim.

Quando cheguei ao Brasil eu primeiro quis me estabilizar, tinha cortado todo vinculo com meus pais e eles me desligaram do hospital em que eu administrava então eu precisava me estabilizar financeiramente. Assim que fui contratado e fui apresentado aos médicos do hospital o Dr. Clovis me falou muito de sua melhor médica, lhe elogiou tanto que imaginei ser impossível ser real alguém com tantas características. Mas quando entrei em sua sala e olhei seus olhos verdades tive certeza de que ela era a minha Nathy.

Os anos tinham sido duros para mim e a mudanças físicas acompanharam as interiores. Eu não era mais um  garoto magro, de riso fácil eu tinha crescido mais, estava bem mais forte, mais maduro e eu sabia que ela não me reconheceria. Mas eu não tive duvidas de que ela era a dona do meu coração, os olhos verdes ainda eram os mesmos com exceção do brilho que não existia mais, os cabelos loiros mais compridos presos num rabo de cavalo, o rosto angelical ainda estava ali escondido na postura de uma médica exemplar, ela tinha ganhado um corpo cheio de curvas que mesmo o jaleco não escondia. Não era mais uma menina magra, com as bochechas rosadas do sol, mas  ainda era a minha Nathy.

-O que foi? Porque está me olhando assim? –ela perguntou enquanto minha cabeça fazia lembrar de todos os dias que passei pensando nela e de todos os momentos em que agradeci a Deus por tê-la do meu lado, mesmo por trás de uma mentira.

-Eu. Amo. Você. –falei segurando seu rosto entre as mãos e mesmo que naquele momento ela estivesse com raiva de mim eu sabia que era recíproco. –Eu menti e me arrependo por isso, mas nada, absolutamente nada que te disse como John ou como Peter foi mentira. Você é a mulher da minha vida, a mãe da minha filha, o motivo da minha alegria e Deus sabe que mesmo mentindo a minha única intenção foi te fazer feliz.

-Você tem noção de quantas vezes eu me culpei por ter ficado com o Peter porque eu via nele você? Você tem noção do quanto eu me senti mal por amar alguém porque ele me fazia lembrar você?  -Ela dizia com lágrimas nos olhos e eu tive outra reação a não ser abraça-la.


Ela tentou se afastar, mas nós dois sabíamos que nunca mais conseguiríamos viver distantes um do outro e mesmo que estivéssemos no meio de uma briga era o abraço dela que eu precisava e  era o meu que ela ansiava também. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Página Anterior Próxima Página Home
Layout criado por