Sai do plantão no inicio da manhã e como o
apartamento dele fica no caminho de casa decidi passar por lá primeiro. Fui na padaria e comprei coisas
para tomarmos café juntos e como o porteiro me conhecia eu subi sem interfonar.
Toquei a campainha e fiquei aguardado foi
então que tive a primeira das decepções daquela manhã.
-Anne! –falei surpresa ao vê-la ali num hobby
azul marinho e pantufas ao abri a porta.
- Nathalie! –falou esbanjando um sorriso
largo.
-O que está fazendo aqui? –Perguntei
implorando a Deus para não ser o que eu estava pensando.
-Ele não te contou? –falou rindo o que só fez
minha raiva aumentar.
Entrei no apartamento e comecei a gritar por
ele.
-Peter! Peter!... –Sai gritando com certeza
acordando os moradores do prédio.
-Nathalie! –Falou surpreso ao me ver, ele
estava de roupão saindo do banheiro.
-Eu não acredito! –Falei gritando tendo
certeza do que eu estava pensando.
-Calma não é nada disso que você está
pensando.
-Ah não? E o que ela faz aqui? E com esses
trajes?
-Você não contou para ela ainda? –Ela falou.
-Cala boca Anne ! –ele gritou com ela.
-Fala logo, o que tem a me dizer. –Disse
tentando manter minha postura.
-Primeiro você precisa se acalmar. –Falou
segurando meus braços.
-Me solta! –falei puxando meu braço de suas
mãos. –Eu não quero me acalmar.
-Eu preciso que você se acalme.
-Eu já falei que não quero me acalmar e fala
logo! –disse aos berros.
-Ela é minha irmã! –Falou.
-Ela não pode ser sua irmã, ela é irmã do
John! –Falei sem acreditar no que tinha ouvido.
-Mas ela é minha irmã.
-Eu não acredito que você fez isso comigo.
–As lágrimas já faziam o trajeto do meu rosto.
-Se acalma. –Falou segurando meu rosto.
-Me solta! Eu não acredito! Não acredito!
–falei em pânico e só então me lembrei
da prova
da nossa história.
Ele estava de frente para mim me observando
com lágrima nos olhos e abri o roupão na parte de cima enquanto ele tentava me
conter, e lá estava ele o coração tatuado que representava nosso amor. Nós
fizemos aquela tatuagem no mesmo dia em que eu perdi minha virgindade e
engravidei da Mel. Um coração acima do peito esquerdo dele e no mesmo lugar em
mim, uma tatuagem pequena, mas que representava tanta coisa para nós, ou pelo menos para mim.
Ao ver a tatuagem minha ficha caiu e eu tive
clareza de tudo que me aconteceu nos últimos meses, ele não mentiu totalmente o nome dele realmente era Peter,
John Peter (João Pedro que era o nome do avó dele) como os pais dele moravam
nos estados unidos quando ele nasceu deram o nome do avó em inglês. Tinha sido
o John o tempo inteiro e eu não conseguia me perdoar por ter sido traída mais
uma vez.
-Porque você fez isso comigo John, Peter sei
lá?! Eu não merecia isso.
-Me perdoa Nathalie eu só queria me aproximar
de você, eu voltei para o Brasil e quando cheguei eu resolvi procurar por você
eu nunca tive ninguém, pelo menos nunca amei alguém como eu te amo.
-Eu não quero ouvir suas desculpas, você
mentiu para mim, você mentiu para minha filha.
-Eu juro que eu não sabia da Mel. Quando eu
cheguei no Brasil eu fui procurar um hospital para trabalhar e lá o Dr. Clovis
acabou me falando de você e da excelente profissional que você é e só quando te
vi lá no hospital eu soube que era você, mas não sabia da Mel só soube quanto
te encontrei na igreja e por isso fiquei surpreso. Eu fiquei triste em saber
que você tinha seguido sua vida e tido uma filha, mas quando encarei a Mel tive
certeza de que ela não poderia ser filha de outra pessoa além de mim.
-Porque não me disse a verdade, porque
continuou me enganando? Pior, você enganou minha filha ela te ama e nem sabe
que você não é só o pai de mentira dela é o pai que ela sempre sonhou em
conhecer.
-Nathalie eu ia contar a verdade para vocês,
eu tentei várias vezes, mas eu perdia a coragem ao imaginar a decepção que
encontraria em seus olhos como vejo agora.
-Isso não justifica! Eu merecia saber a
verdade.
-Eu sei disso! Não acha que eu me culpo todos
os dias por isso? Eu te amo Nathalie.
-Não John, quem ama não mente, não magoa, não
despedaça o coração do outro.
-Quem ama também falha Nathalie, quem ama é
um ser humano imperfeito não que isso
justifique meus erros, mas é um equivoco
achar que só porque amamos temos o controle de tudo até mesmo de magoar ou não
o outro. Eu te amo e isso é algo que você acreditando ou não, não irá mudar.
-Por favor John sem palavras bonitas isso não
vai me convencer, o que você acha? Que com meia dúzia de palavra bonitas vai me
conquistar? –Perguntei enraivecida.
****
Por
John Peter
Aquela mulher que estava
na minha frente enraivecida e gritando não se parecia em nada
com a Nathy do
Peter. Mesmo sendo improvável e louco aquela ironia e raiva fazia com que eu me
lembrasse dela a dez anos antes, quando era apenas uma adolescente mandona e
brava que brigava comigo a cada cinco minutos e tinha ciúmes até mesmo da própria
sombra.
-Para de rir! Eu não sou
uma palhaça!. –disse séria e mandona.
-Eu sei! –disse tentando
controlar o riso. Aquela era a minha Nathy, a Nathy do John e não do Peter.
Foram três meses o
prazo que meus pais me deram para que eu mantivesse o contato com a Nathalie, me
disseram que depois disso eu não poderia falar mais com ela ou eles mandariam
alguém dar um fim nela e na sua mãe que era a única família que ela tinha. Eu sabia
do que meus pais eram capazes de fazer para alcançar seus objetivos e o deles
era ter um filho médico, dono de um hospital e casado com uma “mulher de classe”
o que segundo eles ela não era.
Eu aproveitei cada
segundo daqueles três meses em que podia ouvir sua voz, ou ler seus emails, eu não
podia dizer a verdade para ela ou ariscaria sua vida e família. Foi horrível ver
seus emails chegando na minha caixa de entrada e não poder respondê-la, ver sua
cartas chegando e não poder lhe enviar uma resposta. Com o passar dos tempos
eles diminuíram e deixaram de chegar eu tive certeza de que ela me odiava e que
nunca mais iria olhar em meus olhos.
Depois de um ano
consegui ligar para Milena sem que meus pais soubessem e ela me disse que a
Nathalie estava bem e que não precisava mais de mim, senti tanto rancor nas
palavras da minha prima e imaginei o quanto a minha Nathy estava decepcionada
comigo. Os anos que se seguiram me fizeram encontrar Jesus o que sem dúvida foi
o que impulsionou a quebrar esse vinculo abusivo que meus pais ainda tinha
comigo e vir atrás do amor da minha vida.
Eu sabia que ela poderia estar bem, casada e com
filhos, mas também poderia ser que não. Eu nunca consegui ter outros
relacionamentos era como se eu estivesse traindo ela e
de alguma forma eu
tentava acreditar que ela fazia o mesmo por mim.
Quando cheguei ao
Brasil eu primeiro quis me estabilizar, tinha cortado todo vinculo com meus
pais e eles me desligaram do hospital em que eu administrava então eu precisava
me estabilizar financeiramente. Assim que fui contratado e fui apresentado aos
médicos do hospital o Dr. Clovis me falou muito de sua melhor médica, lhe
elogiou tanto que imaginei ser impossível ser real alguém com tantas características.
Mas quando entrei em sua sala e olhei seus olhos verdades tive certeza de que
ela era a minha Nathy.
Os anos tinham sido
duros para mim e a mudanças físicas acompanharam as interiores. Eu não era mais
um garoto magro, de riso fácil eu tinha
crescido mais, estava bem mais forte, mais maduro e eu sabia que ela não me
reconheceria. Mas eu não tive duvidas de que ela era a dona do meu coração, os
olhos verdes ainda eram os mesmos com exceção do brilho que não existia mais,
os cabelos loiros mais compridos presos num rabo de cavalo, o rosto angelical
ainda estava ali escondido na postura de uma médica exemplar, ela tinha ganhado
um corpo cheio de curvas que mesmo o jaleco não escondia. Não era mais uma
menina magra, com as bochechas rosadas do sol, mas ainda era a minha Nathy.
-O que foi? Porque está
me olhando assim? –ela perguntou enquanto minha cabeça fazia lembrar de todos
os dias que passei pensando nela e de todos os momentos em que agradeci a Deus
por tê-la do meu lado, mesmo por trás de uma mentira.
-Eu. Amo. Você. –falei
segurando seu rosto entre as mãos e mesmo que naquele momento ela estivesse com
raiva de mim eu sabia que era recíproco. –Eu menti e me arrependo por isso, mas
nada, absolutamente nada que te disse como John ou como Peter foi mentira. Você
é a mulher da minha vida, a mãe da minha filha, o motivo da minha alegria e
Deus sabe que mesmo mentindo a minha única intenção foi te fazer feliz.
-Você tem noção de
quantas vezes eu me culpei por ter ficado com o Peter porque eu via nele você? Você
tem noção do quanto eu me senti mal por amar alguém porque ele me fazia lembrar
você? -Ela dizia com lágrimas nos olhos
e eu tive outra reação a não ser abraça-la.
Ela tentou se
afastar, mas nós dois sabíamos que nunca mais conseguiríamos viver distantes um
do outro e mesmo que estivéssemos no meio de uma briga era o abraço dela que eu
precisava e era o meu que ela ansiava
também.
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