segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Os riscos de amar você - Capítulo Dois


Minha sobrinha estava completando um mês e então decidi ir comprar um presente para ela. Fui caminhando até uma loja próximo a faculdade.

-Passa o celular. –uma voz soou atrás de mim.

-De novo meu Deus! –disse em mente me virando.

-Bom dia! –Disse com aquele seu sorriso encantador.

-Bom dia! E tchau! –disse caminhando.

-como assim? –veio me seguindo.

-você já sabe onde eu moro e sabe que eu não posso nem mesmo conversar com um policial, pois isso diante dos traficantes do meu bairro me tornam uma “X9” e literalmente eu não quero morrer.

-O que foi isso? –falou pegando meu braço com hematomas vermelhos.

-deixa pra lá. – disse me soltando.

-Eu quero saber, foi seu namorado? – perguntou curioso.

-Olha bem para mim e vê se eu tenho cara de mulher que apanha de namorado? Além do mais eu nem tenho namorado. – disse séria.

-E então o que foi isso?

-eu te digo e você vai embora?  Disse rindo.

-sim. –respondeu com um meio sorriso nos lábios.

-tá bom! Foi um ex namorado meu que cismou querer voltar comigo, mas ele agora é traficante do morro e eu não posso denunciar ele, ontem ele me apertou depois que lhe disse algumas verdades.

-Você é muito corajosa, mas tem que tomar cuidado.

-Meu pai me diz isso sempre. Agora tchau, você disse que ia embora.

-Tchau estressadinha! –disse saindo.

Comprei o presente e depois do trabalho passei na casa da minha irmã, pois não tinha culto na igreja que congregava.

-Que carinha é essa. –falou me encarando jogada no sofá.

-Lembra do rapaz que me salvou do assalto e que esteve lá no bairro?

-sim, o que tem ele?

-encontrei com ele hoje e de alguma forma ele mexeu comigo.

-e o que isso quer dizer? –Perguntou rindo.

-Que eu estou ficando louca, porque afinal só nos vimos três vezes e trocamos poucas palavras e eu não sei nada sobre ele além de que fica lindo naquela farda. –falei rindo.

-Isso quer dizer que esse coração de gelo está sendo derretido.

-nem brinque com isso! Eu estaria assinando o meu atestado de óbito ou o dele.

Os dias passaram rápidos e estressantes como sempre e mesmo sem nenhuma intenção acabava me pegando pensando no Felipe. Como alguém em tão pouco tempo podia me fazer ter saudade? Será que Deus tinha algum propósito para nós dois? Sinceramente eu esperava que não, seria arriscado demais.

-Lua!

-Sim Senhor!

-Venha aqui na minha sala, tem alguém que quero te apresentar.

-Sim, estou indo.

Sai da minha sala e fui até a sala do meu chefe, ele só me chamava para me dar trabalho.

-Com licença. –falei entrando na sala.

-Pode entrar Lua!

-você! –Falamos unanimes.

-Vocês se conhecem? –Seu Carlos perguntou surpreso.

-Ela é moça que te falei pai.

-Pai? –Disse ainda mais surpresa.

-Ele é meu filho mais velho Luana. Vou deixar vocês conversarem.

-A recepção está vazia. –disse tentando fugir daquela situação.

-Não tenho mais clientes por hoje. –falou nos encarando com um olhar de “cúpido”.

-Verdade! –disse séria.

Ele saiu e eu fiquei na sala com seu filho lindo que não parava de me olhar, como conseguia mexer tanto comigo, onde estava a Luana durona? Eu não podia arriscar nem uma amizade com ele, imagina eu namorada de um policial militar, filho de um pai advogado e uma mãe juíza? Melhor nem pensar.

-o que você falou de mim para o seu pai? –perguntei quebrando o silêncio.

-Falei que tinha conhecido a moça mais linda que já vi na vida, e a mais teimosa e estressada também.

Eu ri.

-Agora por exemplo está mais linda ainda. –disse com seu sorriso encantador estampado no rosto.

-Obrigada! Mas tenho que ir.

-Já?

-Sim, preciso ir.

-Quer uma carona?

-Não, qual a parte do eu moro no morro que você não entendeu? –disse estupidamente.

Esse era um dos meus pores defeitos, mesmo sem nenhuma intenção eu acabava sendo grossa e estúpida com as pessoas.

-Você morar no moro e por isso não pode falar comigo?.

-Eu não disse isso, disse que não posso ser sua amiga, colega.

-nem por aqui? –fez uma cara tão fofa que não contive o riso e mesmo sabendo da besteira que estava fazendo respondi.

-Bom, por aqui eu não vejo perigo.

-então faz assim, eu sou seu amigo só aqui certo?

-certo!

-então amiga, aceitar jantar comigo? –Falou rindo.

-Não  posso amigo, vou para igreja hoje.

-Sua igreja é no morro?

-não.

-Eu te levo lá e não aceito não como desculpa.

Fomos conversamos até o estacionamento onde ele colocou o capacete em mim e me ajudou a subir na moto. Eu sabia da furada que estava me metendo, mas algo mais  forte me impedia de me afastar dele era como se ele fosse um imã que me prendesse.
Ele parou a moto no na frente da igreja e desci e ele me ajudou a tirar o capacete.

-Obrigada pela carona! –falei lhe entregando o capacete.

-por nada! É um prazer ter uma moça linda na minha garupa. –disse rindo.

-quer ficar? Normalmente o culto não acaba tarde. –disse sem me dar conta de que estava armando a minha própria forca.

-Eu fico se você prometer que me acompanha na minha igreja amanhã, certo?

-você é cristão? – disse surpresa.

-Sim, mas ainda não me respondeu.

-Prometo. –falei rápido antes que ele se arrependesse do convite.

- Espera dois minutos. –falou pegando o celular no bolso da calça.

-vida, vou chegar mais tarde hoje, mas não se preocupe estou na igreja.... tá bom... te amo!
Acho que nesse momento todas as minhas gotas de esperanças tinham acabado de secar. Vida? Foi isso mesmo que ouvi?

-Sua namorada? –perguntei.

-isso sempre acontece. Não, é minha mãe, eu sempre chamo ela de vida porque é assim 
que ela me chama.

Ri. Mas ainda não sabia se ele era solteiro ou não, talvez ele só quisesse ser meu amigo mesmo.

-posso ver várias interrogações saindo da sua cabeça. –falou tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

Não respondi nada, ele tinha razão eu tinha milhares de questionamentos me rodeando.

-Eu não tenho namorada, eu não sou um maníaco, eu sou realmente cristão, e eu quero sua amizade porque de alguma forma eu vejo Deus em você isso responde algumas das suas perguntas?

-responde! Vamos – Falei puxando ele para a igreja.

Quando entramos o culto já tinha começado e mesmo assim quando entramos 70% das pessoas olharam para nós. Depois que terminei com o Nathan não tinha namorado ou orado com mais ninguém e chegar na igreja num culto de semana acompanhada por um homem como o Felipe era realmente uma novidade.

Sentamos no fundo, o culto foi maravilho e no final algumas pessoas vieram falar com o Felipe.

-Iai Lipe! Não sabia que conhecia a Lua. –o Gabriel líder dos jovens falou.

-você se conhecem. –eu perguntei surpresa.

-Lua, o Felipe é da igreja sede. –a Lavínia noiva do Gabriel respondeu.
Eles conversaram por um tempo e foram embora, depois que metade da igreja veio falar com ele.

-Quer que eu te leve até perto do morro?

-Não precisa, eu vou com o pessoal aqui da igreja.

-o que foi? –perguntou segurando meu queixo me fazendo olhar para ele.

-Porque não me disse que conhecia metade da minha igreja? porque não me disse que era da mesma igreja que eu?

-Quis te fazer uma surpresa pelo visto não gostou não é? –continuava me encarando.

-Eu gosto de sinceridade, surpresas nesse sentido não são o meu forte.

-mais um fato para minha lista de “fatos sobre Luana”. –disse rindo.

-obrigada por tudo, tenho que ir.

-tchau Lua! Até amanhã não se esqueça.

-até amanhã. –disse saindo.

Fui para casa com o sorriso largo no rosto, mas cada passo que dava em direção ao morro aumentava minha certeza de que a minha vida viraria de cabeça para baixo. Por maior que fosse a paz que sentia quando o Felipe estava perto de mim eu sabia que éramos de mundos opostos e de uma realidade distinta que sempre estaria entre nós mesmo que nos tornássemos apenas amigos.

E além do mais ele não podia ser tão perfeitinho assim, tinha que ter algo de errado, algo que pudesse me fazer desencantar dele. Como assim lindo, crente e policial? Só podia ser um ideal de homem que não existe.

-Que carinha é essa? Parece preocupada.

-ah vô, eu nem sei o que estou sentindo.

-vem aqui!   

Me sentei do seu lado e coloquei a cabeça em seu colo, meu avô era meu confidente e agradecia muito a Deus por essa relação que tinha com a minha família.

-Me conte o que foi ?

-Eu conheci um rapaz o nome dele é Felipe, ele é cristão também e filho do meu patrão o que já nos faz diferentes demais, mas algo me preocupa e é o fato dele ser policial.

-Minha filha, você não pode fazer essa distinção  entre vocês ele ser rico ou ter essa profissão não podem separá-los se quiserem ficar juntos ou apenas serem amigos.

-eu sei vô, mas me preocupa o fator dele ser policial um dia mesmo ele fez operação aqui, se alguém desconfiar que temos qualquer relação seremos perseguidos pelos traficantes do moro e eu não quero colocar a vida de vocês em risco.

-Luana, pare de se preocupar! Deixe as coisas acontecerem como devem ser. Entregue nas mãos de Deus, pois Ele lhe mostrará o que deve fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Página Anterior Próxima Página Home
Layout criado por