Por Nathalie
Eu sou fruto de um casamento
mal sucedido, meus pais se separaram quando eu tinha apenas 3 anos de idade e
eu vivi apenas com a presença da minha mãe
já que o meu pai sumiu no mundo sem lembrar da minha existência. Cresci no meio de uma família cheia de
relacionamentos frustrados, relações maquiadas e varias tias encalhadas vivendo
a solidão por terem tido o coração quebrado ao longo da vida.
Tinha muitos motivos para
não me relacionar, para me fechar para o amor e eu até lutei contra isso até os
meus 15 anos quando o John entrou na minha vida. Sempre sonhei em viver o amor
verdadeiro onde o dono do meu primeiro beijo fosse o mesmo que eu me cassasse e
fosse pai dos meus filhos e eu tive certeza de que esse sonho se realizaria
quando o John apareceu em minha vida. Moreno de olhos castanhos e
cabelos de mesma cor dono de um sorriso lindo e de uma voz que não se comparava
a nenhuma outra, um corpo magro e alto um coração enorme que me apaixonou em
primeira vista. O primo da minha melhor
amiga se apaixonou por mim e me pediu em namoro cinco meses depois de nos
tornamos amigos.
Eu aceitei sem muito pensar
desde que ele apareceu em minha vida eu orava a Deus sobre os meus sentimentos, embora não fosse
cristã minha mãe sempre me dissera que Deus deveria ser sempre o guia da minha
vida por isso eu o orei a ele em todos os momentos, eu não tinha mínima duvida
de que ele era o homem certo para mim, o dono do meu primeiro beijo seria meu
esposo e pai do meu casal de filhos. Mas infelizmente a vida não segue nossos
roteiros e uma noticia inesperada veio para nos separar, os pais dele se
mudaria para a Espanha e como ele também era menor de idade foi obrigado a ir.
-Preciso te contar uma
coisa. –Falou me encarando e seus olhos tinham um tom mais escuro.
-O que foi John? –Perguntei
ao notar o tom de preocupação de sua voz.
-Olha, você precisa entender
que não é uma escolha minha eu juro que
se eu pudesse eu ficaria aqui, mas eu não posso.
-Não estou entendendo?
_perguntei confusa.
-Eu te amo Nathalie. –Disse
com lágrimas nos olhos.
-Fala logo John! você está
me deixando preocupada.
-Meus pais vão morar na
Espanha e vão me levar junto.
-O quê? –perguntei
incrédula.
-Eu não posso ficar aqui
amor, eu sou menor de idade e eu não tenho um emprego. –Falou tentando me
abraçar.
-Me solta! –gritei afastando
ele. –Isso não pode ser verdade! –falei me sentando no degrau da escada da
minha casa onde nós estávamos.
-Infelizmente é verdade
Nathy eu juro que eu não quero ir.
-Para de jurar John! –gritei
fazendo ele me encarar. –Você também me prometeu que nunca ia me deixar
sozinha. –Falei deixando minhas lágrimas retidas caírem.
-E eu não vou te deixar
amor, nós podemos manter contado eu
prometo que vou te ligar todo dia e assim que completar a maioridade eu volto
para gente ficar juntos. –Falou se sentando do meu lado segurando minha mão.
-Por favor John não se
esquece de mim tá? –falei lhe apertando num abraço forte.
Os dias que se passaram foi
como perder o John a cada batida do meu coração um medo absurdo me tomava
quando estávamos juntos, quando ele me abraçava, quando me beijava ou mesmo
quando dizia que me amava, eu tinha medo de nunca mais tê-lo comigo, medo de
que todos os nossos sonhos e projetos nunca se realizassem.
Ele viajou 17 dias depois
que me contou da viajem e eu nunca pensei que pudesse sentir tanta dor no meu
coração como senti quando chamaram o voo dele e depois de um abraço apertado e
um beijo demorado ele me deu tchau e sumiu das minhas vistas. Senti naquele
momento que não existia mais nós e que mesmo que nós tentássemos ficar juntos a
família dele iria fazer de tudo para que isso não acontecesse. Mantemos contato por três
meses, nós falamos todos os dias e ele até me mandou uma carta em cada mês com
um cartão postal de Barcelona, mas
depois de três meses ele não retornou as minhas mensagens nas redes sociais, o
número dele deu como não existente e foi o fim da nossa história.
-Filha acorda! –minha mãe
gritava na porta do meu quarto.
-Que foi mãe? –perguntei
-Você anda dormindo
demais... –ela falou junto com uma de suas lições intermináveis.
Eu realmente estava dormindo
demais, enjoando demais, com fome demais e gorda demais quando parei para
perceber isso a resposta foi óbvia, eu estava grávida. Corri para farmácia comprei um teste de
gravidez e fui para casa da minha amiga.
-Milena! –gritava batendo
desesperada na porta do apartamento dela.
-Que foi? –Abriu a porta com
a cara amassada.
-Eu preciso da sua ajuda. –Falei
entrando em sua casa.
Contei toda situação para
ela que me obrigou a fazer logo aquele teste. Aquele banheiro parecia o pior
lugar para estar no mundo, uma dor absurda tomava meu peito e uma vontade incontrolável
de chorar me tomou. Quando peguei o palitinho e duas listrinhas vermelhas
subiram meu mundo caiu. Eu estava grávida aos 16 anos de idade, estava grávida sozinha
aos 16 anos de idade e pior estava grávida sozinha aos 16 anos de idade e o pai
do meu filho ou filha estava a quilômetros de distância pouco se importando
comigo.
-Naaaão! Por favor Deus! –me
joguei no chão do banheiro.
-Positivo? –Minha amiga
entrou no banheiro me levantando.
-eu não posso ser mãe Mi, eu
não tenho condições para isso. –Falei chorando.
-Calma! A gente vai dar um
jeito. –disse me abraçando enquanto chorava comigo.
Contar a noticia para minha
mãe foi horrível ver a decepção estampada em seu rosto foi o que mais me doeu,
ela queria um futuro diferente para mim e eu também tinha planos completamente
diferentes para minha vida. Nós só dormimos uma vez juntos, foi a minha
primeira vez dois dias antes da viagem do John, ele foi carinhoso e cuidadoso
comigo a gente se protegeu, mas algo deve ter dado errado.
Eu seria incapaz de matar
aquele serzinho dentro de mim e por isso eu decidi levar a gravidez adiante. Eu
sempre quis ter uma família, ser mãe, esposa dar uma base aos meus filhos que
eu nunca tive, dar a eles um pai exemplar, amoroso e dedicado coisa que o meu
nunca foi. Mas a vida dá uns tombos na gente e nos mostra que não faz as coisa
como desejamos e que as consequências dos nossos atos pode ser mais dolorosa do
que pensamos.
Eu sabia que tinha que
seguir minha vida e foi exatamente o que fiz, estudei bastante conclui os estudos. Tive a
minha filha e dei a ela o nome que o John sempre disse que colocaria se tivéssemos
uma filha, Melanie,minha Mel. A vida não foi fácil até os dois anos de idade a
Mel ficava com minha mãe enquanto eu ia trabalha na pequena agência de
publicidade que minha mãe tinha, depois com muito incentivo da minha mãe e
buscando o melhor para minha filha eu fiz vestibular para medicina, eu sempre
fui uma excelente aluna e passei de primeira, medicina não era apenas era o meu
sonho como o da minha mãe que infelizmente foi interrompido pela minha chegada.
Mas mais uma vez a vida me deu uma rasteira e tirou de mim tudo que me restava,
minha mãe descobriu um câncer e morreu quando eu ainda estava no segundo ano de
medicina e nem mesmo o prazer de ver a filha formada ela teve.
Tive que buscar forças onde
não tinha para superar as duas piores perdas da minha vida e me apeguei ainda
mais a Deus, encontrei nele tudo que precisava o pai, o amigo, o conselheiro o
meu consolador, graças a Ele duas pessoas fizeram minha caminhada ser um pouco
menos dolorida. Minha melhor amiga Milena e seu esposo Leandro foram mais que
irmãos para mim mesmo sendo um pouco mais de 2-3 anos mais velhos que eu me
trataram como filha e me deram total apoio.
Foquei minha vida em servir
a Deus descobri que meu chamado era louvar o nome do Senhor, me formei em
medicina e me dediquei a minha filha e a
minha profissão. Desde que o John deixou
de falar comigo se passaram 10 anos, eu nunca mais consegui me relacionar tinha
medo de ser abandonada, tinha medo de sofrer de novo, tinha medo de expor minha
filha, tinha medo da reação dela. O Leo sempre foi a única presença masculina
na vida da minha filha ele era padrinho dela e tudo que ela tinha como referência
de pai.
***
-Amiga cineminha hoje? –Mi
perguntou.
-Vamos! Vou largar o plantão
as 18:00hs.
-te espero lá as 19:30 e vê
se não se atrasa. –Falou.
-Sim senhora!
Larguei o plantão peguei o
carro e fui para casa, morar sozinha já era normal para mim e eu gostava dessa
autonomia que tinha e dessa liberdade de fazer tudo na hora que eu queria com
exceção de colocar limites para minha filha cada vez mais linda e esperta.
-Mamãe chegou Milk! –Fechei a porta atrás de mim enquanto meu cachorro pulava em minhas pernas
sujando toda minha calça branca.
-Tá precisando de um banho
filho! –falei pegando ele no colo. –Amanhã te levo ao petyshop.
-Boa noite Aline! –falei para
babá da minha filha que estava saindo da cozinha.
-Boa noite Nathy!
-Mãe! –minha filha me
abraçou apertado. Ela sempre foi apegada a mim e essa minha rotina no hospital
fazia eu ficar um pouco ausente e por isso quanto estava junto dela eu
procurava ao máximo ser a melhor mãe do mundo.
-Oi meu amor! Sabe o que vamos
fazer essa noite? –perguntei enquanto era observada por um par de olhos
castanhos tão idênticos ao do pai, ela era a cópia dele.
-O quê mãe? –perguntou com
um sorriso lindo nos lábios.
-Cinema com a tia Mi e o
Léo! –falei enquanto ela pulava pela sala.
Coloquei a ração do Milk troquei os jornais sujos , coloquei água limpa
e fui para o meu quarto na verdade eu queria mesmo era tomar um pelo banho e
dormir, mas eu precisava espairecer e o hospital naqueles últimos dias estava
sendo terrível. Tomei banho e vesti um
vestido estampado que tinha a saia solta e era na altura do joelhos, soltei o
cabelo que vivia preso num rabo de cavalo e me arrisquei numa maquiagem para
tirar minha cara de cansada.
A babá da minha filha já
tinha ido embora por isso fui ajudá-la a se arrumar. Ela era muito, muito
parecida com pai, e era a menina mais linda do mundo, tinha os cabelos
castanhos quase loiros, olhos castanhos como o dele e o mesmo sorriso
encantador. Ela já estava arrumada quando cheguei no seu quartoe por isso saímos
logo para não nos atrasar.
-Tchau Milk! –falei fechando
a porta.
Cheguei no shopping na hora
marcada e encontrei meus amigos em um beijo apaixonado na praça de alimentação,
eu admirava eles dois mesmo com alguns anos de casamento ainda pareciam um
casal de namorados.
-Cheguei! –gritei e eles se
separam me encarando.
-Quer me matar do coração
Nathy! –Mi falou.
-Imagina! –falei
gargalhando.
Minha filha abraçou os
padrinhos e ficou conversando com o eles enquanto eu escolhia uma comédia com a
classificação da idade dela, e até que o filme foi legal, jantamos lá mesmo,
mas antes de sair eu senti um mal estar.
-Nathy! Amiga! Amiga você
está pálida, aconteceu alguma coisa? –Milena perguntava enquanto Leo que também
era médico checava meu pulso.
-Eu só estou um pouco
cansada! –falei quase sem voz.
Fui para casa, coloquei a
minha filha para dormir e em seguida me joguei na cama tirei o vestido e vesti
um pijama qualquer, apenas orei a Deus e
chorei como a tempos não fazia sentia falta da minha mãe, de ter uma família de
ter o John comigo, eu queria ser feliz de novo e embora eu já fosse por ter
Jesus, minha filha e meus amigos algo ainda falta em mim.