O que sobrou de mim - Capítulo cinco

Três dias depois, na sexta-feira resolvi não ir à faculdade aquele dia e consegui adormecer as 6:00hs da manhã. Acordei já eram 12:30 hs e eu estava exausta, tomei um banho rápido almocei correndo e fui para o trabalho.

Eduardo tirou folga naquele dia e por isso eu apenas fiz meu trabalho em silêncio naquela tarde. Queria ter forças o suficiente para desmarcar com o Jake e lhe dizer que eu não tinha condições físicas e psicologias para enfrentar uma festa, mas ele tinha sido tão gentil.

-Thamy, por favor, vamos! –disse .

-Eu nem conheço o Jake.

-Mas vai conhecer, eu falei que iria levar uma amiga e ele disse que tudo bem.

-Tá bom! Pede ao Edu para levar a gente. –disse.

-O Edu vai sair com a Rafa. –Falei. –Mas meu pai falou que ia me emprestar o carro dele.

Acabei por convencer minha amiga e no dia seguinte acordei um pouco mais tarde e isso me causou um bem sem tamanho o dia passou rápido e no final da tarde comecei a me arrumar para o aniversario do Jake tinha comprado uma camisa para ele. Vesti um vestido preto na altura dos joelhos tinha a saia  rodada e era simples, calcei um salto dourado e soltei os cabelos, forcei-me a fazer uma maquiagem decente e passei perfume antes de sair.Peguei a Thamy em casa e fomos até o condomínio do Jake que não sabia onde era, mas segui o endereço do convite e com a ajuda do GPS cheguei lá.

Segurei no braço da Thamy e fechei os olhos assim que entramos no elevador e o 12° andar parecia não chegar nunca, respirei fundo e contei os segundos para ir daquele cubículo, eu odeio elevado!  Chegamos ao apartamento 702 e eu bati na porta.

-Helena! –falou surpreso me olhando de cima a baixo. –Você está incrível. –disse esbanjando um sorriso largo.

-Obrigada Jake! Feliz aniversário! -disse lhe dando  um abraço.

-Obrigado!

-Essa é minha amiga Thamy! –falei apontando para minha amiga que já estava admirando a beleza do meu colega de faculdade.

-Prazer! –disse lhe estendo a mão.

-prazer é todo meu. –ele disse estendendo a mão! -Podem ficar a vontade qualquer coisa é 

só  me chamar. –falou .

Entrei mais minha amiga e encontrei um pessoal na minha turma que ficaram surpresos pela minha presença ali. Depois me sentei no sofá com minha amiga que não parava de falar um minuto da beleza do Jake e realmente ele era bem bonito.

-Ele não para de te olhar. –Ela falou.

-Quem? O Jake? Ele é meu colega de faculdade e nada mais.

-Não o Jake, o Guga. –Falou.

-Seu primo está aqui e você me diz isso agora? –perguntei chateada.

-Pensei que tivesse visto, ele não tira os olhos de você desde que chegamos aqui. –Falou.

-Meu Deus! Será que ele vai ficar me seguindo? –perguntei nervosa.

-Calma Nena!

-Calma? –perguntei irônica –Thamyles! Seu primo acabou com a minha vida, destruiu meus sonhos e agora volta depois de quatros e quer que eu o trate naturalmente. O que ele quer de mim? Saber o que sobrou? Eu nem sei. O que sobrou de mim?

-Sobrou uma menina forte e linda que não vai se importar como idiota do meu primo. –falou tentando me confortar.

O Gustavo não veio falar comigo, mas me observou durante a noite inteira. A festa foi legal apesar de não ser de pessoas evangélicas não houve tumultos, músicas escrotas ou algo do tipo. Fiquei um pouco e me despedi do Jake dizendo que gostei bastante daquela noite, na verdade eu não menti ele era um rapaz muito gentil e ficou bastante tempo conversando comigo e minha amiga, mas realmente ficar num lugar onde o Gustavo estava me incomodava bastante.

Levei a Thamy em casa e fui para minha, tomei um banho demorado e depois de orar tentei dormi, mas uma pergunta não saia da minha mente um segundo sequer “O que sobrou de mim?”. Com certeza depois que o Gustavo foi embora eu me perdi, deixei de ser aquela menina sonhadora que via sempre o lado bom das pessoas e das coisas ao meu redor, que acreditava no amor, deixei de ser aquela garota extrovertida e carismática que sempre fui me fechei tanto em meu mundo que perdi quase todos os meus amigos, somente a Thamy e o Edu ficaram.

A vida perdeu completamente o sentido para mim  quando ele se foi, ele era aquele que me fazia rir de coisas sem sentidos, que me abraçava em qualquer situação e por pior que fosse fazia eu encontrar a paz e só com um abraço acalmava tudo dentro de mim, sempre lhe dizia que ele era a pessoa que Deus escolheu para cuidar de mim. Quando ele se foi meu mundo desmoronou e eu me questionei incontáveis vezes “o que eu fiz de errado?”, eu não era ciumenta, possessiva, era atenciosa, carinhosa eu cuidava mais dele do que de mim, eu o amava tanto que fazê-lo feliz era minha meta de vida.

Ele nunca deixou espaços que pudessem ser preenchidos por outro alguém, nunca imaginei que outro poderia ocupar o seu lugar, o Gustavo parecia ser o meu encaixe perfeito e por mais clichê que isso possa parecer ele era realmente a peça que completava meu quebra-cabeça.

Nós éramos um em Deus e era o amor que ele tinha por Deus que me fazia ter a certeza de que ele era o homem certo para mim, ele não se importava de deixar de sair comigo se eu tivesse algum compromisso na igreja, ele por vez me deixou em casa para ir pregar em algum lugar ou para acompanhar algum amigo em algum culto, e isso nunca me incomodou eu sempre adorei ser sua segunda opção, saber que Deus ocupava o primeiro lugar de sua vida me apaixonava ainda mais.

Quando ele se foi eu não fiz como aqueles casais que terminam o namoro e postam no Facebook “Não vai encontrar ninguém melhor do que eu” ou  “foi livramento de Deus” eu tinha certeza de que todos os dias que esteve ao meu lado ele tinha sido sincero, eu não entendia sua decisão de partir, mas sabia que o seu caráter era algo que eu sempre iria admirar.

~Você estava especialmente linda essa noite.

Me assustei ao receber uma mensagem de um número bloqueado.

~Oi! Eu te conheço? Seu número aparece bloqueado para mim.

~Sou seu admirador secreto.

~sério?

~Sim, e só para saber você fica linda de preto.

~rsrs...onde você me viu?

Eu estava curiosa, quem poderia ser meu admirador secreto?

~Só posso dizer que apenas te vi, e você estava espetacular!

~eu não sei lidar muito bem com elogios, mas obrigada mesmo assim.

~Com certeza suas bochechas estão rosadas, você fica linda envergonhada.

Ele me conhecia! Eu sempre fico ruborizada como estou com vergonha, minhas bochechas ficam vermelhas no mesmo segundo. Mas quem era ele?

~você me conhece?

~Mas do que você imagina, e só por isso sei que está ansiosa para saber quem sou.

~Por favor, diga quem você é.

~Direi em breve.

Ele não mandou mais mensagem naquela noite, mas mesmo assim eu fiquei tentando descobrir quem ele poderia ser.

***

-Como foi a festa do Jake? –Edu me perguntou ele tinha ido almoçar lá em casa junto com a Rafa no domingo.

-Foi legal, mas o Gustavo estava lá. –Falei.

-O Gustavo sempre me falou tão bem de você não entendo porque terminaram assim. –

Rafa falou.

-Também não sei, mas o que importa é que não damos mais certo juntos e quanto mais longe ele estiver melhor para mim.

-Filha pediram para entregar a você. –Minha mãe disse com um sorriso nos lábios me entregando  um buquê de rosas-rosas.

~Me disse uma vez que rosa é sua cor favorita, bom domingo!

A mensagem chegou assim que peguei o buquê nas mãos da minha mãe.

-Nossa! Que lindas. –Rafa falou.

-São mesmo! –falei surpresa.

-Quem mandou? –Edu perguntou.

Peguei o cartão que estava na rosa era digitado e portanto não poderia descobrir pela letra quem poderia ser.

“receberá um flor dessa todos os dias até o dia que descobrir quem sou.” Seu admirador secreto

 -Meu admirador secreto! –Respondi sorrindo

-Quê? –perguntou rindo. –Nossa Nena! Você evoluiu em? de encalhada para recebendo buquê de admirador secreto.

-Como você é desagradável Eduardo! –Rafa falou me defendendo.

-Muito bem Rafa! –disse rindo.

Ficamos conversando a tarde inteira no final da tarde foram embora, pois iriam para o culto a  noite e eu também iria.Cheguei  na igreja e encontrei meu colega da faculdade sentado num banco do fundo parecia procurar alguém, fiquem surpresa por sua presença ali sempre tinha o chamado, mas ele nunca aceitou meu convite.

-Oi! –disse. –Resolvi agradecer sua presença na minha festa vindo te ver aqui. –disse sorrindo.

-Que bom Jake! Obrigada por ter vindo tenho certeza de que vai gostar. –falei me sentando ao seu lado.

O culto foi maravilhoso e jake pareceu ter gostado de estar ali fiquei feliz por isso, conversamos bastante.

-Gustavo disse que estaria aqui! –Jake falou.

-Gustavo? _perguntei.

-Sim, meu amigo Gustavo! –falou e quase pensei que iria dizer, sim o Gustavo o seu ex.

-Oi pessoal! –Aquela voz pertubadora me atingiu em certo e eu quase sai correndo dali. Senti que estava próximo de mim e seu cheiro me inundava fazendo eu ficar mais nervosa do que o normal.

-Estava falando  de você com a Helena. –Jake falou .

-Foi mesmo Nena?. –Falou tão sínico que fiquei com vontade de bater nele se eu tivesse ao menos forças para me movimentar dali.

-Ele estava te procurando. –Falei séria.

Eles começaram a conversar e foi a desculpa perfeita que encontrei para sair dali. Todos naquela bendita cidade parecia conhecer o Gustavo, todos naquela igreja me olhava com pena por saber o que ele tinha feito comigo. Eu queria que ele fosse embora de novo, que ele levasse todas aquelas lembranças que tinha demorado tanto para esquecer e que com a chegada dele parecia uma avalanche em minha cabeça.

Eu te odeio Gustavo! –disse baixinho enquanto me virava pela milésima vez naquela cama.

~Amo seu perfume.

~Então você me viu hoje de novo?

~Sim, mas hoje você parecia triste.

~Tristeza é algo que faz parte da minha vida nos últimos quatro anos.

~Poderia te ajudar?

~Não

~Posso perguntar  o que te causa tanta tristeza?

~Digamos que ter o coração partido não seja tão fácil de esquecer.

Ele não respondeu e nem mandou mais mensagens naquele dia, ele só poderia ser alguém de perto alguém que me conhecia, mas ao mesmo tempo se me conhecesse saberia que o nome da minha tristeza era Gustavo. Eu estava confusa tinha algumas alternativas, mas não queria arriscar.

***

-Hoje faz dois meses que o Gustavo voltou. –minha mãe me disse assim que cheguei na sala naquela sexta-feira, em algumas semanas seria minha formatura eu tinha sido aprovada e meu TCC foi um sucesso.

-Bom dia! –falei ignorando o que ela disse.

-Vocês deveriam conversar com mais calma. –Falou.

-Mãe, pelo amor de Deus! Eu e o Gustavo não temos nada para conversar.

-Você pode não querer, mas vocês tem muito o que conversar ainda.

Tirei aquele dia para ir no salão fiz as unhas e o cabelo, voltei para casa e fiquei o dia inteiro dentro do quarto. Eu não conseguia parar de pensar nele era mais forte do que eu era como se minha mente fosse obsecada por ele porque não existia outra explicação.

 Não posso dizer que virei à página, superei e dei a volta por cima, apenas me acostumei com a dor e a ausência, mas ele estava mais presente em mim do que deveria e do que eu gostaria. Sentia falta de sentir seu cheiro e de saber que mesmo sendo essa confusão que eu sou eu tinha nele a segurança que precisava para fazer o que quisesse, pois ele me apoiava em qualquer situação e circunstância.

 Eu não tinha saudades apenas do Gustavo namorado dos beijos e abraços, era do Guga amigo que eu tinha mais saudades ele me ouvia atentamente em cada detalhe do meu dia e não se importava de me ouvir reclamando dos meus professores, ele era meu ombro amigo, meu conselheiro.

Eu tinha saudades de toda sua organização e de sua mania de endireitar os óculos a cada segundo, de passar a mão pelos cabelos quando estava nervoso, de morder os lábios quando estava preocupado, de revirar os olhos com alguma bobagem que dizia.

Não era das coisas grandes que eu tinha saudade era dos mínimos detalhes, daqueles que para as outras pessoas não eram nada, mas para mim eram especiais. Era saudade de ter seus dedos entre meus cabelos quando me fazia cafuné ou quando eu fazia carinho em seu rosto, era saudade de o ver reclamando quando eu ficava mexendo em sua orelha ou espremia seus cravos no rosto. 

Era saudade de ver ele brincando de boneca com a minha irmã apenas para agrada-la de o ver dançando no meio da sala da minha casa músicas da galinha  pintadinha. Eu não alimentava esse sentimento em mim, era tão forte que não precisava de nada para crescer e era por isso que eu o odiava, ele estava mais presente na  minha vida do  que eu  gostaria.