terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Coração tatuado - Capítulo um



Por Nathalie

Eu sou fruto de um casamento mal sucedido, meus pais se separaram quando eu tinha apenas 3 anos de idade e eu vivi apenas com a presença da minha mãe  já que o meu pai sumiu no mundo sem lembrar da minha existência.  Cresci no meio de uma família cheia de relacionamentos frustrados, relações maquiadas e varias tias encalhadas vivendo a solidão por terem tido o coração quebrado ao longo da vida.

Tinha muitos motivos para não me relacionar, para me fechar para o amor e eu até lutei contra isso até os meus 15 anos quando o John entrou na minha vida. Sempre sonhei em viver o amor verdadeiro onde o dono do meu primeiro beijo fosse o mesmo que eu me cassasse e fosse pai dos meus filhos e eu tive certeza de que esse sonho se realizaria quando o John apareceu em minha vida. Moreno de olhos castanhos e cabelos de mesma cor dono de um sorriso lindo e de uma voz que não se comparava a nenhuma outra, um corpo magro e alto um coração enorme que me apaixonou em primeira vista. O  primo da minha melhor amiga se apaixonou por mim e me pediu em namoro cinco meses depois de nos tornamos amigos.

Eu aceitei sem muito pensar desde que ele apareceu em minha vida eu orava a Deus  sobre os meus sentimentos, embora não fosse cristã minha mãe sempre me dissera que Deus deveria ser sempre o guia da minha vida por isso eu o orei a ele em todos os momentos, eu não tinha mínima duvida de que ele era o homem certo para mim, o dono do meu primeiro beijo seria meu esposo e pai do meu casal de filhos. Mas infelizmente a vida não segue nossos roteiros e uma noticia inesperada veio para nos separar, os pais dele se mudaria para a Espanha e como ele também era menor de idade foi obrigado a ir.

-Preciso te contar uma coisa. –Falou me encarando e seus olhos tinham um tom mais escuro.

-O que foi John? –Perguntei ao notar o tom de preocupação de sua voz.

-Olha, você precisa entender que não é uma escolha minha  eu juro que se eu pudesse eu ficaria aqui, mas eu não posso.

-Não estou entendendo? _perguntei confusa.

-Eu te amo Nathalie. –Disse com lágrimas nos olhos.

-Fala logo John! você está me deixando preocupada.

-Meus pais vão morar na Espanha e vão me levar junto.

-O quê? –perguntei incrédula.

-Eu não posso ficar aqui amor, eu sou menor de idade e eu não tenho um emprego. –Falou tentando me abraçar.

-Me solta! –gritei afastando ele. –Isso não pode ser verdade! –falei me sentando no degrau da escada da minha casa onde nós estávamos.

-Infelizmente é verdade Nathy eu juro que eu não quero ir.

-Para de jurar John! –gritei fazendo ele me encarar. –Você também me prometeu que nunca ia me deixar sozinha. –Falei deixando minhas lágrimas retidas caírem.

-E eu não vou te deixar amor,  nós podemos manter contado eu prometo que vou te ligar todo dia e assim que completar a maioridade eu volto para gente ficar juntos. –Falou se sentando do meu lado segurando minha mão.

-Por favor John não se esquece de mim tá? –falei lhe apertando num abraço forte.

Os dias que se passaram foi como perder o John a cada batida do meu coração um medo absurdo me tomava quando estávamos juntos, quando ele me abraçava, quando me beijava ou mesmo quando dizia que me amava, eu tinha medo de nunca mais tê-lo comigo, medo de que todos os nossos sonhos e projetos nunca se realizassem.

Ele viajou 17 dias depois que me contou da viajem e eu nunca pensei que pudesse sentir tanta dor no meu coração como senti quando chamaram o voo dele e depois de um abraço apertado e um beijo demorado ele me deu tchau e sumiu das minhas vistas. Senti naquele momento que não existia mais nós e que mesmo que nós tentássemos ficar juntos a família dele iria fazer de tudo para que isso não acontecesse. Mantemos contato por três meses, nós falamos todos os dias e ele até me mandou uma carta em cada mês com um cartão postal de Barcelona,  mas depois de três meses ele não retornou as minhas mensagens nas redes sociais, o número dele deu como não existente e foi o fim da nossa história.

-Filha acorda! –minha mãe gritava na porta do meu quarto.

-Que foi mãe? –perguntei

-Você anda dormindo demais... –ela falou junto com uma de suas lições intermináveis.

Eu realmente estava dormindo demais, enjoando demais, com fome demais e gorda demais quando parei para perceber isso a resposta foi óbvia, eu estava grávida.  Corri para farmácia comprei um teste de gravidez e fui para casa da minha amiga.

-Milena! –gritava batendo desesperada na porta do apartamento dela.

-Que foi? –Abriu a porta com a cara amassada.

-Eu preciso da sua ajuda. –Falei entrando em sua casa.

Contei toda situação para ela que me obrigou a fazer logo aquele teste. Aquele banheiro parecia o pior lugar para estar no mundo, uma dor absurda tomava meu peito e uma vontade incontrolável de chorar me tomou. Quando peguei o palitinho e duas listrinhas vermelhas subiram meu mundo caiu. Eu estava grávida aos 16 anos de idade, estava grávida sozinha aos 16 anos de idade e pior estava grávida sozinha aos 16 anos de idade e o pai do meu filho ou filha estava a quilômetros de distância pouco se importando comigo.

-Naaaão! Por favor Deus! –me joguei no chão do banheiro.

-Positivo? –Minha amiga entrou no banheiro me levantando.

-eu não posso ser mãe Mi, eu não tenho condições para isso. –Falei chorando.

-Calma! A gente vai dar um jeito. –disse me abraçando enquanto chorava comigo.

Contar a noticia para minha mãe foi horrível ver a decepção estampada em seu rosto foi o que mais me doeu, ela queria um futuro diferente para mim e eu também tinha planos completamente diferentes para minha vida. Nós só dormimos uma vez juntos, foi a minha primeira vez dois dias antes da viagem do John, ele foi carinhoso e cuidadoso comigo a gente se protegeu, mas algo deve ter dado errado.

Eu seria incapaz de matar aquele serzinho dentro de mim e por isso eu decidi levar a gravidez adiante. Eu sempre quis ter uma família, ser mãe, esposa dar uma base aos meus filhos que eu nunca tive, dar a eles um pai exemplar, amoroso e dedicado coisa que o meu nunca foi. Mas a vida dá uns tombos na gente e nos mostra que não faz as coisa como desejamos e que as consequências dos nossos atos pode ser mais dolorosa do que pensamos.

Eu sabia que tinha que seguir minha vida e foi exatamente o que fiz,  estudei bastante conclui os estudos. Tive a minha filha e dei a ela o nome que o John sempre disse que colocaria se tivéssemos uma filha, Melanie,minha Mel. A vida não foi fácil até os dois anos de idade a Mel ficava com minha mãe enquanto eu ia trabalha na pequena agência de publicidade que minha mãe tinha, depois com muito incentivo da minha mãe e buscando o melhor para minha filha eu fiz vestibular para medicina, eu sempre fui uma excelente aluna e passei de primeira, medicina não era apenas era o meu sonho como o da minha mãe que infelizmente foi interrompido pela minha chegada. Mas mais uma vez a vida me deu uma rasteira e tirou de mim tudo que me restava, minha mãe descobriu um câncer e morreu quando eu ainda estava no segundo ano de medicina e nem mesmo o prazer de ver a filha formada ela teve.

Tive que buscar forças onde não tinha para superar as duas piores perdas da minha vida e me apeguei ainda mais a Deus, encontrei nele tudo que precisava o pai, o amigo, o conselheiro o meu consolador, graças a Ele duas pessoas fizeram minha caminhada ser um pouco menos dolorida. Minha melhor amiga Milena e seu esposo Leandro foram mais que irmãos para mim mesmo sendo um pouco mais de 2-3 anos mais velhos que eu me trataram como filha e me deram total apoio.

Foquei minha vida em servir a Deus descobri que meu chamado era louvar o nome do Senhor, me formei em medicina  e me dediquei a minha filha e a minha profissão.  Desde que o John deixou de falar comigo se passaram 10 anos, eu nunca mais consegui me relacionar tinha medo de ser abandonada, tinha medo de sofrer de novo, tinha medo de expor minha filha, tinha medo da reação dela. O Leo sempre foi a única presença masculina na vida da minha filha ele era padrinho dela e tudo que ela tinha como referência de pai.

***

-Amiga cineminha hoje? –Mi perguntou.

-Vamos! Vou largar o plantão as 18:00hs.

-te espero lá as 19:30 e vê se não se atrasa. –Falou.

-Sim senhora!

Larguei o plantão peguei o carro e fui para casa, morar sozinha já era normal para mim e eu gostava dessa autonomia que tinha e dessa liberdade de fazer tudo na hora que eu queria com exceção de colocar limites para minha filha cada vez mais linda e esperta.

-Mamãe chegou Milk! –Fechei  a porta atrás de mim  enquanto meu cachorro pulava em minhas pernas sujando toda minha calça branca.

-Tá precisando de um banho filho! –falei pegando ele no colo. –Amanhã te levo ao petyshop.

-Boa noite Aline! –falei para babá da minha filha que estava saindo da cozinha.

-Boa noite Nathy!

-Mãe! –minha filha me abraçou apertado. Ela sempre foi apegada a mim e essa minha rotina no hospital fazia eu ficar um pouco ausente e por isso quanto estava junto dela eu procurava ao máximo ser a melhor mãe do mundo.

-Oi meu amor! Sabe o que vamos fazer essa noite? –perguntei enquanto era observada por um par de olhos castanhos tão idênticos ao do pai, ela era a cópia dele.

-O quê mãe? –perguntou com um sorriso lindo nos lábios.

-Cinema com a tia Mi e o Léo! –falei enquanto ela pulava pela sala.

Coloquei a ração do Milk  troquei os jornais sujos , coloquei água limpa e fui para o meu quarto na verdade eu queria mesmo era tomar um pelo banho e dormir, mas eu precisava espairecer e o hospital naqueles últimos dias estava sendo terrível.  Tomei banho e vesti um vestido estampado que tinha a saia solta e era na altura do joelhos, soltei o cabelo que vivia preso num rabo de cavalo e me arrisquei numa maquiagem para tirar minha cara de cansada.

A babá da minha filha já tinha ido embora por isso fui ajudá-la a se arrumar. Ela era muito, muito parecida com pai, e era a menina mais linda do mundo, tinha os cabelos castanhos quase loiros, olhos castanhos como o dele e o mesmo sorriso encantador. Ela já estava arrumada quando cheguei no seu quartoe por isso saímos logo para não nos atrasar.

-Tchau Milk! –falei fechando a porta.

Cheguei no shopping na hora marcada e encontrei meus amigos em um beijo apaixonado na praça de alimentação, eu admirava eles dois mesmo com alguns anos de casamento ainda pareciam um casal de namorados.

-Cheguei! –gritei e eles se separam me encarando.

-Quer me matar do coração Nathy! –Mi falou.

-Imagina! –falei gargalhando.

Minha filha abraçou os padrinhos e ficou conversando com o eles enquanto eu escolhia uma comédia com a classificação da idade dela, e até que o filme foi legal, jantamos lá mesmo, mas antes de sair eu senti um mal estar.

-Nathy! Amiga! Amiga você está pálida, aconteceu alguma coisa? –Milena perguntava enquanto Leo que também era médico checava meu pulso.

-Eu só estou um pouco cansada! –falei quase sem voz.


Fui para casa, coloquei a minha filha para dormir e em seguida me joguei na cama tirei o vestido e vesti um pijama qualquer,  apenas orei a Deus e chorei como a tempos não fazia sentia falta da minha mãe, de ter uma família de ter o John comigo, eu queria ser feliz de novo e embora eu já fosse por ter Jesus, minha filha e meus amigos algo ainda falta em mim.

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