sábado, 4 de fevereiro de 2017

O que sobrou de mim? -Capítulo Quatro



Por Rafaela

Gustavo era o homem mais incrível que eu conheci na vida, ele era um anjo travestido de ser humano. Nunca conheci alguém com tamanho amor por Deus, com tamanha dedicação pela sua obra e com tanta força de vontade. Nos conhecemos na faculdade e nos tornamos amigo logo no início do primeiro semestre ter alguém cristão na mesma turma que você quando se está na universidade é algo maravilhoso e se esse alguém fosse o Gustavo isso era melhor ainda.

 Depois de um tempo ele começou a namorar e não parava de falar da Helena ela com certeza deveria se considerar uma mulher sortuda. Acabamos nunca nos conhecendo pessoalmente porque ela ainda estava na escola e nossos horários sempre chocavam quando o Guga marcava alguma coisa para fazermos. Quando me contou o motivo da viagem eu nem pensei duas vezes antes de o incentivar a ir era uma oportunidade que ele não poderia jogar no lixo, mas só depois eu percebi o porquê estava tão transtornado ele teria que deixar a Helena para trás. Eu o odiaria tanto quanto a Helena provavelmente o odiava se eu fosse sua namorada e ele não me contasse que iria embora.

 O Gustavo escolheu se formar em uma universidade de renome, viver a agitação de São Paulo e estar ao lado do pai e isso o fez abrir mão de algo que talvez ele nunca encontrasse de novo, o amor verdadeiro. Todas as escolhas que fazemos na vida requer renuncia, Gustavo fez a sua e abriu mão do amor da Helena.  Acho que por isso eu estava lutando tanto pelo Eduardo eu sabia que nunca encontraria alguém tão especial como ele, mesmo com toda sua timidez e o jeito atrapalhado de ser eu sabia que nunca seria olhada com tanto amor e admiração como eu via em seus olhos ao olhar para mim.

Conheci o Edu na igreja e tinha um pouco mais de um ano que tínhamos nos tornado amigos e isso fez eu enxergar nele todas as qualidades de um homem que um dia eu tinha pedido para Deus e saber que ele tinha visto em mim as qualidades que ele tinha pedido a Deus fazia meu coração bater acelerado e agradecer a Deus em cada segundo.

Eu sabia que era questão de tempo até ficarmos juntos, pois antes precisávamos de um tempo de oração e era o que nós estávamos fazendo. Eu não queria perder o Edu como o Gustavo tinha perdido a Helena só de me imaginar vivendo longe dele me apertava o coração e acho que só depois de me apaixonar pelo Eduardo eu entendi um pouco da dor que Helena deve ter sentido. 

***
Por Helena

-Tchau pai, tchau mãe! –disse beijando a testa dos dois.

-Tchau filha! –Responderam juntos e eu sai.

O Edu já estava me esperando do lado de fora e estava mais bonito e cheiroso do que o normal. O Eduardo era um nerd completo, usava  os cabelos castanhos penteados para o lado, óculos e sempre se vestia com roupa social, mas naquele dia com certeza meu tio Pedro deve ter lhe dado umas dicas.

-Nossa! Palmas para Rafa por fazer você pentear esse cabelo diferente! –disse rindo.

Ele vestia camisa social preta, gravata e calça preta, seus cabelos estavam penteados para trás o que o dava um ar de galã de cinema, seu óculos continuavam lá, mas os olhos brilhando não ficaram escondidos por trás dele. Ele estava feliz e automaticamente eu ficava também.

-Amo te ver assim com esses olhos brilhando. –disse sorrindo.

-Eu também gosto de te ver assim, mas desde que o Gustavo foi embora eles não brilharam como antes. –Disse

-Eu sei. –falei concordando.

Foi difícil para mim quando percebi que a mãe do Gustavo não tinha mentido, que ele realmente tinha ido embora, e que eu não representava absolutamente nada para ele porque não se deu nem o trabalho de se despedir de mim. Eu me odiei por logos 12 meses e chorei escondido durante todos os dias daquele ano. Eu não podia fingir que ele não foi nada na minha vida ou que a dor não me consumia e me matava cada dia um pouco mais.

Eu não era simplesmente uma adolescente apaixonada eu o amei, e talvez seja por isso que eu tenha sofrido tanto, chorado tanto e me questionado todos os dias o porquê tudo aquilo. Cada dia longe dele  foi atormentador,  eu o amava e mesmo com o passar do tempo esse amor insistia em permanecer em mim. Depois de um ano eu resolvi enfrentar a vida e permitir que aquela ferida aberta mesmo sem cicatrizar recebesse um curativo.

-Vamos! –falou quando chegamos no prédio da Rafa.

 Segurei no braço do Edu e fechei os olhos quando entramos no elevador então um cheiro conhecido entrou junto, meu coração acelerou ao reconhecer o cheiro e pedi a Deus internamente para que não fosse ele.

-Ainda tem medo de elevador? –Sua voz ecoou pelo elevador e meu coração pareceu querer sair pela boca. Apertei ainda mais o braço do Edu e continuei de olhos fechados.

-Ela nunca vai  perder esse medo. –Edu respondeu e pela voz percebi que estava rindo.

O elevador chegou no andar e abri os olhos e encontrei ele me encarando com o mesmo olhar de sempre, aquele par de olhos pretos sempre foram mais bonitos para mim do que qualquer azul ou verde, ele sorriu, mas eu estava nervosa demais para sorrir de volta.
Saímos do elevador e ele não disse mais nada, o Edu me puxou pelo braço e eu sabia que ele iria para o mesmo lugar que nós dois por isso parei quando o vi entrando no apartamento da Rafaela.

-Eu não vou conseguir agir naturalmente. –Disse encarando o Edu.

-Eu sei que é difícil para você, mas eu realmente preciso entrar ali e pedi a Rafa em namoro porque se não fizer isso hoje eu vou perder a coragem. –Falou me fazendo pensar em quão egoísta eu tinha sido em pensar em ir embora.

-Não deixa ele se aproximar de mim, por favor. –falei implorando.

-vou fazer de tudo para  que isso não aconteça. –falou beijando minha testa e me puxando para o apartamento da Rafaela que estava com a porta aberta.

-Boa noite! –Edu disse assim que entramos e encontramos a mãe da Rafa na porta.

-Boa noite! –falei tentando parecer simpática.

-Boa noite. –disse com um sorriso largo. –A Rafa foi conversar com um amigo, mas já vem. –Falou apontando para o canto da sala onde a Rafaela conversava com o Gustavo.

Nós entramos e eu sentei no sofá junto com o Edu.

-Ela é amiga dele! –disse completamente nervosa. –Sua futura namorada é amiga do meu ex. –disse quase gritando e desesperada.

-Cala boca! –Edu disse e então vi a Rafa e o Gustavo caminhando em nossa direção.

-Oi pessoal! –falou animada lançando um olhar apaixonado para o meu amigo.

-Oi Rafa, feliz aniversário! –falei lhe entregando o presente e lhe abraçando tentando ignorar o meu ex do lado dela.

-Obrigada Helena. –Disse simpática.

-Esse é o meu. –Edu lhe entregou o livro que havia comprado. –Mais uma vez feliz aniversário. –Falou lhe dando um abraço desajeitado e eu acabei deixando um sorriso escapar.

-Obrigada Edu! –Disse esbanjando um largo sorriso. –Esse é o Gustavo meu amigo de 
infância .

Automaticamente um estalo em minha mente me fez lembrar da Rafaela na época em que  comecei a namorar o Gustavo, ele vivia trocando mensagens com ela me deixando com ciúmes, minha fixa caiu e ela pareceu também ter lembrado de mim.

-Não acredito! –disse com a voz um pouco mais alta. –Você é a Helena do Gustavo! –falou rindo. –que coincidência.

Edu me encarou rindo, mas eu continuava séria porque eu não era a “Helena do Gustavo”, não mais.

-É ela sim. –ele disse com um riso no rosto enquanto eu flamejava de raiva.

-Eu não sou nada sua você deixou isso  bem claro quando foi embora. –falei séria.

-Desculpa! –Rafaela falou séria.

-Imagina Rafa, você não tem o quê pedir desculpas ao contrario do seu amigo. –disparei sem me importar.

-Bom, abre o presente Rafa. –Edu falou quebrando o clima pesado que estava sobre nós.

Ela abriu o embrulho e um sorriso sem tamanho tomou seu rosto ao ver o livro que ela queria.

-Obrigada Edu! –falou lançando os braços sobre o pescoço dele num abraço caloroso.

Meu amigo me encarou sorrindo enquanto abraçava sua futura namorada eu lhe devolvi o sorriso e fiquei feliz por ele estar feliz. Eles separaram do abraço e ela pareceu envergonhada.

-Fala logo Edu! –falei cutucando ele.

-hã?

-O pedido! –falei rindo do seu nervosismo.

-Rafa, eu... eu.... eu quero te .... ai meu Deus como isso difícil! –falou enquanto eu e o 
Gustavo caiamos numa crise de risos.

-Você quer? –Ela perguntou impaciente.

-Eu... eu...

-Ele quer namorar com você. –disse e ele me encarou com raiva.

-É isso, eu quero saber se você quer namorar comigo. –Falou tão rápido que duvido que ela tenha entendido algo.

-A aliança! –falei baixinho pra ele.

-Então, quer? –perguntou nervoso segurando o anel na mão.

-Claro que sim! –falou o abraçando.

Ele colocou o anel em seu dedo e em seguida ela lhe puxou pelo braço indo falar com a mãe e o pai.

Sentei no sofá e então percebi que o Gustavo continuava ali e agora me encarava com o riso nos lábios como fazia antes.

-Não perdeu o costume de se intrometer nos pedido de namoro não é? –Falou sorrindo deixando suas covinhas aparecerem e minha mente logo me trouxe a lembrança de quando me pediu em namoro.

Já tínhamos quatro meses juntos orando e conversando muito apesar das nossas diferenças tínhamos propósitos iguais e sonhos que se complementavam eu já tinha certeza de queria namorar com ele só faltava ele me pedi em namoro.
Cheguei em casa depois da escola e encontrei meus pais e meus pastores sentados na sala de casa, como eles sempre foram amigos não estranhei a visita até ver o Gustavo sentado no canto da sala segurando um buque de rosas rosas que sempre foram minhas favoritas. Ele estava pálido e suando feito um cuscuz me controlei para não rir da cena.

-O Gustavo já conversou com a gente e para nós tudo bem. –Meu pai falou tranquilo diga-se de  passagem bem mais tranquilo do que imaginava.

-Nena...Eu quero que você saiba que eu gosto muito de você e por isso... –falou pausando me deixando ainda mais nervosa. –eu quero saber.... quero saber....se ...se.

-Se eu aceito ser sua namorada? –perguntei o interrompendo.

-Você quer?

-Achei que não fosse fazer mais isso demorou tanto. –disse e todos ali começaram a rir.

-E então? –perguntou nervoso.

-Claro que sim. – E então ele me envolveu num abraço e colocou uma aliança no meu dedo.

As lembranças daquele dia fez meu coração se apertar e doer de saudades.

-Você estava tão nervoso que achei que ia desmaiar na minha frente. –falei contendo o riso. –Só quis ser uma mulher de iniciativa. –disse abaixando a cabeça.

-Desculpa por tudo mal que te fiz. –disse com os olhos triste e parecia tão sincero que cogitei acreditar nisso.

-Se vai continuar pedindo desculpas sem me contar o que aconteceu acho melhor parar por ai.

-Desculpas não vão mudar nada assim como as minhas justificativas também não. –disse e vi seus olhos marejar.

Ele podia não prestar, mas eu sabia que naquele momento ele estava falando a verdade.

-Tenho que ir, tchau! –me levantei do sofá.

-Estou indo, nem pense em sair dessa festa antes de dar um beijo na Rafa. –disse no ouvido do Edu.

-Você não presta, sabia? –Perguntou rindo.

-Eu sou uma ótima amiga, mas tenho que ir já aguentei tudo que podia por hoje. –falei sincera.

-Tudo bem, quer que eu chame um táxi?

-Não, eu chamei um Uber. –falei dando um beijo em sua bochecha.

Fui onde a Rafaela estava e me despedi dela disse que foi um prazer ter estado em sua festa e que ficava muito feliz dela estar namorando meu melhor amigo.

-Ele é assim todo nerd e tímido, mas depois ele vai começar a ficar abusado. –disse rindo.

-Tá bom então! . –disse rindo.

Fiquei parada em frente ao elevador buscando forças para entrar naquele cubículo de ferro e descer dez andares sozinha, meu coração começava a acelerar e eu comecei a suar frio. Quando decidir voltar e pedir ao Edu para descer comigo vi o Gustavo caminhando em minha direção com um sorriso irônico nos lábios ele sempre fazia questão de me irritar por esse meu medo de elevador.

-Estou indo embora também, quer ajuda?. –Falou rindo.

Eu tinha três opções a primeira era descer andando dez andares o que eu nunca faria principalmente por levar bem a sério meu titulo de sedentária, a segunda voltar e pedir ajuda ao meu melhor amigo que estava aproveitando os primeiro minutos do seu namoro que com certeza faria a Rafaela me odiar e terceira que era segurar na mão do meu ex-namorado e apenas me concentrar em descer aqueles andares.

-Quero . –Falei baixo.

Ele me estendeu a mão e eu a segurei o elevador chegou e eu fechei os olhos enquanto sentia o Gustavo fazer carinho nas costas da minha mão com o polegar. “Eu odeio o Gustavo! Odeio esse medo de elevador! Odeio ter vindo a esse aniversário! Odeio ter sido abandonada! Odeio ter sido trocada.” Chegamos ao térreo e só então percebi que estava chorando, limpei meu rosto e me soltei do Gustavo saindo do elevador.

-Obrigada! –Falei sem o encarar e entrei no carro do Uber que me esperava na portaria do prédio

Cheguei em casa e não consegui pegar no sono, minha mente me levava para o passado e me fazia relembrar aquele pedido de namoro  tantas vezes quanto a imagem do Gustavo me encarando com aqueles olhos. Seria tão mais fácil se eu o tivesse esquecido, se ele realmente tivesse sido apenas uma paixão adolescente e quanto mais eu dizia para mim mesmo que o odiava mais tinha certeza de que continuava amando aquele idiota.

***
-Eu não posso estar apaixonada de novo pelo Gustavo mãe! –Falei com as mãos no rosto.

-Na verdade você nunca deixou de estar minha filha.

-Isso é loucura! Como posso amar um homem que destruiu minha vida, meus sonhos, minha alegria depois de QUATRO ANOS, MÃE? –Perguntei

-Já ouviu dizer que amor não se explica? –perguntou me encarando.

-Mãe,pelo amor de Deus eu devo estar enlouquecendo.

-você tem que admitir que o Gustavo é o motivo de você nunca ter tentado namorar de 
novo porque tinha esperanças de viver com ele de novo. –Thamy falou sentando na cama onde eu estava.

-Já sei! Foi apenas as lembranças boas que me fizeram pensar que gosto dele ainda, mas na verdade eu odeio o Gustavo!

-não seja idiota filha! Tá mais que na cara que você nunca odiou o Gustavo você apenas teve raiva por ele ter ido, mas sempre o amou.

-eu sou uma idiota mesmo não é  Thamy? –perguntei para minha amiga que estava sentada na cama ao meu lado. –Seu primo faz o que faz comigo e só pelo toque dele na minha mão a idiota aqui se apaixona.

-Helena entende uma coisa aqui. –Falou segurando minhas mãos. –Quando existe amor em um relacionamento mesmo que se passem cem anos que aconteçam mil coisas o sentimento vai continuar ali. Você ama o Gustavo e mesmo concordando que ele seja um idiota vocês nasceram para viver juntos.


-não, não, não! –falei me soltando. –Eu não nasci para viver com o Gustavo ele foi o pior erro que cometi na vida e assunto encerado. Deveria ter descido aqueles andares andando. 

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