Estava cansada de viver aquele joguinho com o William
tudo que eu queria era ser feliz e também queria que ele fosse. Aquela nossa
briguinha e indecisão estavam tornando as coisas piores do que de fato eram e
eu sabia que parte desse problema era todo meu.
Nós nos falamos depois daquele episodio, mas foi como se
uma parede de gelo estivesse entre nós, e como isso era ruim.
-Vai sair com a Mai de novo? –Perguntei para o meu irmão
que não tirava o sorriso bobo do rosto e estava todo arrumado.
-Sim, vamos na praça conversar um pouco.
-Você roubou mesmo minha amiga não foi? –Falei brincando.
-E te emprestei meu amigo, mas você não quis fazer o que?
–Falou sarcástico.
-Você bem sabe que não é questão de querer é questão de
não existir um propósito que nos una. –Falei séria.
-Você já orou sobre isso ou está fazendo uma suposição?
-Esquece Levi, aproveita bastante a noite e me trás um
chocolate estou de Tpm.
-Tá bom! –Falou e se despediu me dando um beijo na testa.
Fui para o quarto e me ajoelhei aos pés da minha cama.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto e em
meio aos gemidos eu me entreguei a Deus e questionei o porque da minha
vida ter se tornado essa bagunça, porque eu não me acertava ou me afastava de
vez com o William, com quem quer que fosse questionava o porque a minha vida
não tinha um rumo. Entre meus questionamentos uma voz falou ao meu coração me
estremecendo por dentro.
-“Filha, Tu me perguntas e me questionas aquilo que acha
que eu deveria fazer para você, mas o que você tem feito por mim? Quando foi a
ultima vez que você orou por desconhecidos?”-Uma paz me invadia.
-Mas Deus eu não consigo, meu coração está angustiado,
cansado, eu tenho tantos medos e por isso acabo orando somente por mim, pela
minha família e amigos e às vezes pela igreja. –Falei tentando justificar-me
diante dele.
-“Quando você vai entender que o mundo não gira em torno
de você? Que existem pessoas que estão se matando, então sendo mortas, estão se
drogando, prostituindo, estão sendo estupradas, massacradas, estão com fome
precisando apenas de um olhar de amor e um gesto de solidariedade e você não
tem feito nada para mudar isso.”
-E quem vai buscar por mim? Eu também necessito da sua
ajuda.
- Eu não tenho te deixado faltar nada, Eu te livrei dos homens
que tramaram o mau contra ti e tenho te guardado debaixo das minhas asas todos
os dias, zelo pela tua noite e consolo o Teu coração, tenho sim ouvido seu
clamor e visto tuas lágrimas, mas preciso da sua ação, preciso que se levante e
venha trabalhar para o meu Reino.
Naquele momento lembrei-me da vida confortável que eu
tinha, das roupas e sapatos que mesmo não sendo muitos eu tinha para escolher,
lembrei da minha família e de tê-los todos servindo ao Senhor, lembrei de todas
as vezes que me livrou de homens maus, de acidentes, de assaltos... lembrei de
como Ele era bom comigo e de como eu estava sendo ingrata com Ele apenas
pedindo e pedindo sem agir, sem fazer algo que ao menos o alegrasse.
Me derramei ao pés do Senhor e chorei pedindo perdão por
ter me tornado alguém tão egoísta, egocêntrica aponto de esquecer do mundo ao
meu redor, esquecendo-me da palavra de Deus e de como Ele me ensina a amar e eu
não estava fazendo absolutamente nada para por em pratica sua palavra.
Pedi perdão por colocar meus pequenos problemas como
grandes diante de coisas horríveis que pessoas a minha volta estavam vivendo e
ainda assim adoravam e faziam sua obra com amor.
***
-Vamos sair hoje para entregarmos alguns agasalhos e sopa
para os moradores de rua. –A líder o evangelismo avisou no final do culto.
E assim que acabou o culto eu fui procura-la e ela me
informou o dia que estariam saindo na sexta-feira depois do culto e que era
para quem iria abrir jejum em prol desse propósito e orar sobre isso. Não
comentei com ninguém que iria queria fazer para Deus sem ter nenhum
reconhecimento do homem por isso.
O dia do evangelismo chegou e eu avisei apenas os meus
pais e fui, estava determinada a viver para Deus e fazer tudo que estivesse ao
meu alcance para viver para Deus. A madrugada passou correndo e entre marquises
e viadutos nós ajudamos os moradores de rua que dormiam ali. Levamos sopa,
café, roupas e cobertores.
Cheguei em casa ás 3:20 da manhã a Dona Jozy que morava
no meu prédio me deu carona até em casa.Depois de tomar banho, orei e dormir
profundamente.
O sábado chegou e eu acordei as 10:00 horas da manhã o
que não costumava fazer sempre fui de acordar cedo, mas aquela madrugada me
desgastou bastante.
-Bom dia família! –Falei para os meus pais que estavam
sentados no sofá e a Raka e o Levi estavam na cozinha que dividia americana.
-Bom dia! –Eles responderam em uníssono.
-Deixaram para você. –Minha mãe falou apontando para a
mesa de canto da sala que tinha um buquê de rosas vermelhas e um cartão.
Pequei o buquê coloquei de novo no lugar, eu amava todos
os tipos de flores, mas tinha alergia especialmente a rosas. Automaticamente
entrei numa crise de espirros e logo meus olhos e nariz começaram a coçar.
-Você não é uma boa pessoa para ganhar rosas tão
românticas de presente.
-Que engraçado! –Falei fazendo careta para o Levi. –Que
mandou?
-Tem um cartão aí do lado.
-“Desculpa por ter forçado a barra naquele dia, passei
essas duas semanas tentando me afastar de você, mas digamos que você gera uma
pressão muito grande sobre mim. As flores são para te pedir perdão e para ao
menos reconquistar sua amizade. –Will “
-Quem mandou? –O meu pai perguntou.
-Claro que foi o Will –O Levi falou respondendo.
-Foi o William sim.
-O que dizia o cartão? –Meu pai perguntou me encarando.
Entreguei o cartão para ele ler.
-Amigos? –Ele tornou a me encarar com um sorriso amarelo
no rosto.
-Pai! Sim, amigos. Apenas amigos!
Peguei o celular e sentei no sofá comecei a digitar uma mensagem para o William, mas no meio eu apaguei e voltei a escrever, fiz isso várias vezes até chegar numa mensagem razoável. Queria profundamente resistir a ele, dizer que o perdoava, que o queria longe de mim, porém o meu coração queria ele perto queria ao menos tê-lo como amigo.
“Bom dia Will! Prova de que eu te perdoo é eu estar te
chamando pelo apelido eu nunca fiz isso antes rsrs.. obrigada pelas rosas, mas
infelizmente sou alérgica (Tipo, muito
alérgica), além de gerar uma polemica na minha casa com relação a intenção de
realmente ter mandado as flores, mas obrigada assim mesmo. Sinta-se meu amigo
novamente.” –Enviei e esperei ele responder o que não demorou 30 segundos para
isso.
-“Desculpa, não imaginava que era alérgica a rosas nunca
vi alguém com esse tipo de
alergia só quis ser romântico, mas fico muito feliz de me perdoar e me aceitar como
seu amigo. Prometo me esforçar para não fazer aquilo de novo.”
-“Obrigada! Mas digamos que eu não seja uma pessoa que
possa ganhar presentes “românticos” , pois eu tenho alergia a rosas, ursos de
pelúcia, cães e gatos, e qual quer coisa que possa guardar poeira.”
-“Nossa! E comida tem alergia também?”
-“Amendoins, camarão, morango, e castanhas até onde sei
são só esses.”
-“Você não é normal! Quem tem alergia a morango?”
-“Eu!”
Ficamos conversando bastante e depois eu fui fazer alguns
trabalhos da faculdade até a noite chegar e eu ir para igreja.
-“Oiie tudo bem? Aqui é a Carla sou amiga intima do
William só queria te avisar que eu ainda não desisti dele e se você não sabe
ainda ele não é um príncipe encantado como aparenta ser.” –Ela leu a mensagem em voz alta.
-Nátalia quem será que deu seu numero a ela? Meu Deus!
-Eu não sei Mai, mas de uma coisa ela tem razão ele não é
um príncipe muito menos um príncipe encantado.
-Como estão vocês?
-Enquanto ele continuar vivendo a vida de qualquer forma
não vai existir um “vocês” eu me odeio por não conseguir tirar ele da minha
cabeça já orei incontáveis vezes, mas ele não sai de mim.
-Imagino como seja difícil, mas até quando vocês vão
ficar assim nessa “amizade” que não é amizade e nesse namoro que não é namoro?
-Amiga, eu não tenho certeza de mais nada nessa vida.
Realmente não tinha certeza nenhuma do que iria acontecer na minha vida, tudo que
queria era que a vontade de Deus fosse feita na minha vida por mais dolorosa e
difícil que ela viesse ser sabia que era a melhor vontade ;
-Vamos no cinema eu pago pra você, não quero te ver nessa
deprê não. –ela disse.
Troquei de roupa e fui
para o shopping com a Maísa, tudo que queria era esquecer meus problemas
apenas por um momento.
-Nah!
-Que foi?
-olha só! –Falou apontando para uma mesa próximo a que
estávamos sentadas.
Lá estava ele mais lindo do que nunca, vestindo uma
camisa polo azul marinho e uma calça branca, seus cabelos perfeitamente
bagunçados só lhe deixava mais lindo. Estava sentado sozinho parecia esperar
por alguém que chegou.
-Ela é a Hanna!
-Que Hanna?
-A ex dele que o beijou quando fui jantar lá na casa
dele.
-Mentira?! –disse incrédula.
Não beija, não beija, não beija ele! –repetia dentro de
mim como se realmente algo fosse mudar graças as minhas vibrações “negativas”.
Ela o beijou, na verdade eles se beijaram e eu fiquei ali
de plateia os assistindo com o choro na garganta. Por que eu estava passando
por tudo isso? Por que eu não consegui esquecê-lo? Por que não conseguia o
odiá-lo e afastá-lo de vez da minha vida? Que sentimento era esse que eu tinha por ele que me
destruía e fazia cada dia mais o meu coração se transformarem em cacos
espalhados no chão. Que sentimento era esse que me matava cada dia mais? Eu me
odiava pelo simples fato de ter um dia conhecido o William mesmo que a culpa
não fosse minha, eu me odiava por sentir ciúmes dele e por me imaginar no lugar
dela ou de qualquer outra mulher que tinha experimentado o sabor do seu beijo,
eu me odiava por amar o seu perfume e por adorar o seu abraço, me odiava por
estar chorando naquele momento.
-Nátalia! Vamos? –Disse me puxando pelo braço.
Eu levantei e limpei as lágrimas que insistiam em descer.
Ele me viu e olhou tão fixamente para mim que eu fiquei assustada.
Não falei com ele apenas caminhei em direção a saída do
shopping.
-Nátalia! –Aquela voz atormentadora me fez parar.
-O que foi? –Disse seca.
-Porque não falou comigo? –disse com aquele sorriso
encantador nos lábios.
-Não queria atrapalhar sua conversa.
-Você nunca me
atrapalha. Você estava chorando?
-Não importa, agora tenho que ir.
-Nátalia será que você não consegue sair da defensiva?
-Não, eu não consigo.
-Você foge de mim e quando me ver com alguém sempre vejo
lágrimas em seus olhos.
-Não tenho culpa se o meu coração escolheu um cafajeste
como você para se apaixonar. –Falei cuspindo as palavras.
-Então está apaixonada? –Disse com o riso nos lábios.
-Será que não dá para ver?
-E porque foge tanto? Eu gosto de você eu quero ficar com
você.
-esse é o problema eu não quero ficar com você por umas
horas ou algumas noites e ser dispensada quando você achar alguém melhor. Eu
quero que a vontade de Deus se cumpra em mim e como eu te disse uma vez lá em
casa eu escolhi esperar porque acredito que somente no tempo certo as coisas
acontecem da melhor maneira. Eu gosto de você de verdade, mas não posso abrir
mão dos meus valores e da minha fé.
-Eu também não posso abrir mão dos meus desejos por você,
se fosse do meu jeito as coisas seriam bem melhores.
-Mas comigo elas não serão do meu nem do seu jeito, serão
como Deus quiser.
Ele segurou meus braços e me encarou eu via raiva em seus
olhos, talvez eu fosse para ele uma espécie de objetivo que quando conquistasse
ele colocaria outro em meu lugar e me deixaria para trás, ele tinha raiva por
não ceder aos seus encantos que não eram poucos.
-Você ainda vai mudar de ideia Naty.
-Já lhe disse que não gosto que me chamem assim , mas
tenha certeza que se algum dia eu ceder a você será por Deus e não por você.
-Veremos. –Disse me soltando.
Voltei para casa com uma dor insuportável no peito que me
apertava e sufocava. Eu queria gritar, queria sumir, queria esquecer tudo que
ele me disse tudo que ele tinha se tornado para mim, queria apenas ser aquela
menina sonhadora que acreditava no amor verdadeiro e em homens de caráter o que
definitivamente o William não era.
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