Fechei a janela e me arrumei, peguei o ônibus e fui
direto ao escritório fui ao setor de Rh e pedi demissão como o Dr. Carlos era o
meu chefe direto precisava esperar ele aparecer para assinar. No caminho de casa comprei outro chip para o meu celular,
em casa salvei os contatos e exclui tudo que tinha do Felipe no meu celular,
todas mensagens, fotos e até os áudios que ele me mandava todos os dias. Joguei
o antigo chip no lixo e proibi a Letícia de falar qualquer coisa da minha vida
para o Felipe. Proibir minha família de atender as ligações dele no telefone
fixo. No fim da noite me joguei na cama e apenas chorei.
- O que é que o Senhor quer de mim agora? Será que minha
vida é só pra sofrer? Quando eu andava segundo minha vontade eu quebrei a cara
agora que eu decidi esperar e entregar tudo em suas mãos tudo parece querer nos
atrapalha. Por que me disse que era o Felipe o escolhido do Senhor para mim?
Porque me deixou ficar apaixonada por ele se não podemos ficar juntos?...
Eu lançava as perguntas como se Deus estivesse ali de
carne e osso, eu esbraveja tudo que estava sentindo e enquanto falava e chorava
o telefone fixo tocou e como não tinha ninguém em casa eu atendi.
-Luana?
-Sim, quem gostaria?
-Sou eu Luana, Dr. Carlos.
-Oi Dr. Com está a Dona Ligia?
-Está bem, foi um tiro de raspão.
-Graças a Deus não foi nada grave. – respirei aliviada.
-Estou te ligando para perguntar do seu pedido de
demissão, o que aconteceu?
-Eu não posso continuar trabalhando ai.
-É por causa do Felipe?
-Também, mas realmente não posso continuar trabalhando
ai.
-Você é uma ótima funcionária, preciso de um motivo
plausível para assinar essa demissão.
-Me desculpe Sr. Carlos, mas é um direito meu e não me
importo como dinheiro que vou perder eu só não posso continuar mantendo contato
com a sua família se é que me entende.
-Tudo bem Luana, venha amanhã para buscar os documentos.
-obrigada! –disse e desliguei a ligação.
Sair do escritório no final da tarde depois de assinar os documentos e como não
tinha culto na minha igreja resolvi ir na praia. O lugar que mais amo no mundo
é a praia sinto Deus mais próximo de mim e sempre que observava o mar e sua
imensidão eu me acalmava, Deus me trazia paz, uma paz sem explicação.
Sentei-me num local bem iluminado, dobrei os joelhos com
a bolsa no colo e comecei a falar com Deus, enquanto orava, chorava por tudo
que estava passando, mas também sentia a presença de Deus. Senti uma mão no meu ombro e me virei para olhar. Não
poderia estar em um estado mais deplorável para ser encontrada por ele. Meus
cachos estava presos num coque no alto da cabeça o rosto inchado de chorar e
vermelho também por isso.
Ficava maravilhoso vestido de farda o que eu pude
concluir que estava de plantão, ele era incrivelmente lindo, era uma beleza que
transcendia a aparência era a beleza interna dele que refletia em sua aparência
e em tudo que fazia. O Nathan por exemplo é muito mais bonito que o Felipe
fisicamente, mas por dentro eram tão diferentes que nem dava para comparar.
-Lua! –Disse surpreso a me ver ali e naquele estado.
-Oi. –disse fraca.
-vem! –me estendeu a mão para que levantasse.
Ele não disse nada apenas me guiou a um quiosque do local. Vi o Primo dele que acenou em minha
direção e também era amigo dele e Pm, uma amiga dele que não me recordava e
outro colega dele de trabalho os três nos olhavam atentos de longe e as pessoas
das outras mesas de onde nós estávamos nos observavam de perto.
Eu estava sentada tentando entender o porque aceitei
estar ali com ele, porque não tinha ficado sentada e chorando assim estava mais
confortável para mim. Ele se inclinou em minha direção e eu achei que iria me beijar, por isso abaixei a cabeça, mas ele
só soltou o meu cabelo ele sempre me disse que amava ver meus cachos.
Nós continuamos em silencio isso estava me matando porque
ele não costumava ficar calado, ele falava o tempo inteiro mesmo que não
tivesse nenhum sentido tudo que dizia.
-O que você quer? Vai fica ai me olhando com pena é? Eu
já recebi dezenas de olhares de piedade só hoje, vai jogar na minha cara também que isso tudo é culpa minha e que se
estivéssemos juntos tudo seria diferente? –disse séria.
Ele me encarava de uma forma que me fazia estremecer, me
arrepiava e fazia meu coração acelerar.
-Não vai falar nada? –Disse já com raiva dele.
Ele veio em minha direção e me puxou para si, nossos
corpos se encontraram e seu toque fez meu corpo inteiro arrepiar, ele me
encarava procurando respostas, mas eu não tinha nenhuma e então me beijou de
forma que não sei explicar foi diferente de todos os nossos outros beijos, foi
diferente de todos os beijos que já tinha dado na vida.
-para! –falei ofegante empurrando seu peitoral para que
se afastasse. –Você acha que tudo se resolve com um beijo.?
-Não! Eu acho que o nosso beijo é apenas prova de que nós
nos completamos, que os nossos corpos se encaixam e que o nosso coração está
mais unidos um ao outro do que o que gostaríamos. Não pense que não me doe te
ver assim. –falou.
-Eu não quero sua pena, eu não te pedi para ter compaixão
de mim. –disse estupidamente.
-Eu não tenho pena de você eu tenho raiva de te ver
sofrendo por algo que já poderia ter sido resolvido. –falou alto fazendo as
pessoas nos olharem.
-E quem disse que eu estava chorando por você? –perguntei
irritada.
-E quem disse que eu não faço isso todos os dias por
você? Será que é impossível de entender que o que sentimos pelo outro não é
apenas atração física ou paixão? Droga! –falou colocando as mãos na cabeça em
sinal de desespero o que fez o meu coração se quebrar ainda mais. –Se eu
tivesse como tirar esse sentimento de dentro de mim já tinha feito, eu odeio te
ver sofrer, odeio não poder mudar sua vida , te tirar do morro, lhe fazer
entender tudo que sinto. –disse deixando algumas lágrimas escapar.
Aquela era a primeira vez que chorava de verdade na minha
frente, eu sentia o mesmo que ele e me odiava por fazê-lo sofrer a ponto de
chorar na frente de tantas pessoas.
-Ai meu Deus! –disse fui até ele. –olha pra mim.
Aquele olhar estraçalhava tudo dentro de mim, me
bagunçava, me ajudava, me apaixonava, fazia eu me perder e me encontrar.
-Eu te amo! –disse limpando as lágrimas dos seus olhos. –Te
amo de uma forma que não sei explicar, mas eu não quero correr mais risco do
que já corremos, não quero nem imaginar
que algo aconteça a você por minha causa. Eu quero que me prometa que vai ser
feliz, que vai seguir sua vida e vai deixar eu seguir a minha. Nada vai apagar
o que nós vivemos muito menos os sentimentos que construímos, mas por enquanto
essa é a melhor coisa a se fazer.
-Eu não posso ser feliz sem você. –disse me encarando.
-Pode sim, é de Deus que vem a sua alegria, eu não quero
e nem posso ocupar o lugar que é Dele no seu coração. Eu queria muito aceitar
ser sua namorada é tudo que eu desejo, mas ainda não é a hora ainda precisamos
nos doar mais a Deus, precisamos nos envolver com sua obra e tenho certeza que
se for para ficarmos juntos isso vai
acontecer seja em um mês ou em 10 anos.
-mas... –ele ia falar, mas eu o interrompi.
-Mas nada, eu não vou pedir apenas sua amizade porque sei
que isso seria doloroso demais para nós dois, mas eu quero te ver feliz. Nunca
esqueça que eu te amo. –disse o abraçando.
Ele retribuiu o abraço e beijou minha testa.
-A cada dia te admiro mais. –Disse segurando meu queixo
me fazendo o encarar. –Eu sei que tem alguma coisa envolvida além de você morar
no morro e o medo que isso te causa, eu quero que você confie em mim.
-Realmente tem, mas isso não é questão de confiança, pois
eu confio em você.
-Então o que é? –disse sério.
-Eu ainda não estou pronta para te revelar quem sou.
-tem certeza?
-tenho, mas eu te amo. –disse e sair de onde estávamos.
Estava doendo ter dito aquelas palavras, mas era o melhor
a ser feito. Era a vontade de Deus e
quem era eu para contestar?. A minha vida toda sonhei encontrar o príncipe
encantado o homem que mudaria a minha vida assim como o príncipe da Cinderela fez
na vida dela. Eu realmente sonhava que a minha vida de gata borralheira um dia
teria fim e que não precisaria mais sofrer por ter o coração partido ou ser
desprezada por morar numa comunidade carente.
O Felipe chegou na minha vida da maneira mais inusitada e
quando dei por mim a flecha do cupido me acertou. Queria continuar acreditando
que ele seria o príncipe que mudaria minha história, mas fui surpreendida pelo sapo.
Queria poder contar ao Felipe toda verdade sobre mim e
lhe dizer tudo que eu venho carregando comigo por anos. Nunca pensei que as consequências
nas minhas antigas escolhas refletiriam tão duramente no meu presente.
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