segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O que sobrou de mim -Capítulo três


-Nena você e o Guga são iguais ao príncipe e a princesa do desenho. –Laura falou apontando para tela da televisão que passava o filme da Cinderela.

-é mesmo? –Guga perguntou rindo.

-é! você olha para ela igual ao príncipe olha  para princesa. –Minha irmã falou  nos encarando sentados no sofá.

- Você que é uma princesa. –falei puxando ela para um abraço e beijando sua bochecha.

-Dança com ela Guga. –Falou puxando meu namorando para ficar de pé. –Vem Nena! – falou me puxando com suas mãozinhas.

-O que a gente tem que fazer? –perguntei encarando seus olhinhos atentos a nós.

-dancem! –falou rindo.

-Então minha princesa me dá a honra dessa dança? –Guga falou segurando minha cintura.

-Claro meu príncipe! –falei lhe dando um selinho.

Laura estava sentada no sofá da sala nos observando atentamente e os olhinhos até brilhavam, ela realmente nos via como um casal real. Gustavo me conduziu numa dança sem música e enquanto rodopiávamos, riamos e gargalhávamos com os comentários encantados da minha irmã.

-te amo príncipe! –falei

-Também te amo princesa.

Lembrei-me daquela tarde ao ver minha irmã sentada na sala assistindo cinderela, meu coração se apertou ao recordar dos momentos felizes que passamos juntos, das nossas crises de riso e do quanto minha irmã nos admirava e com toda sua inocência acreditava que éramos príncipe e princesa de verdade.

***

-Bom dia! –O professor disse entrando na sala.

Aquela era minha ultima semana na faculdade e graças a Deus em pouco tempo eu seria uma advogada para orgulho dos meus pais.  Eu já ia para faculdade forcada não tinha mais animo para nada o TCC me dava dor de cabeça, o trabalho, as responsabilidades com a igreja e a chegada do Gustavo fez aquela segunda-feira parecer pior do que o normal.

-Helena! –Jake fala me cutucando.

-O que foi? –perguntei.

-Sábado é meu aniversário quero te convidar pra festa, não se preocupe que não terá baile funk ou bebida alcoólica porque meus pais são crentes como você,  mas eu realmente queria que você fosse. –falou me entregando um convite.

-Obrigada Jake eu vou sim, posso levar uma amiga? –perguntei.

-Claro que sim. –disse sorrindo.

Voltamos a prestar atenção ao que o professor falava e logo a manhã passou e mais uma vez me obriguei a ir para o trabalho. Eu chegaria um pouco mais cedo o que me daria tempo para almoçar e isso já melhorava um pouco aquela segunda-feira.Cheguei no escritório e passei na sala do meu chefe para ver se precisava de algo. Encontrei o Edu com o sorriso mais bobo no rosto e os olhos brilhando como a muito tempo não via.

-Nossa! O passarinho verde passou por aqui! –disse me sentando na cadeira em sua frente.

-Ah priminha! –disse suspirando – O dia começou maravilhosamente bem hoje.

-Me conta! –falei apoiando meus cotovelos sobre a mesa e o encarando.

-O cinema foi ótimo, no domingo a tarde fomos ao boliche e a noite fomos para o culto juntos e hoje eu mandei um buquê de flores para Rafa e ela disse que poderia ir pega-la em casa para irmos para igreja.

-Ual! Para meu amigo antissocial, nerd e rabugento esse foi um ótimo final de semana. –disse rindo.

-E você falou com o Guga de novo? –Disse ignorando o que disse.

-Meu dia já não está tão bem ainda você quer falar do Gustavo? Por favor Edu, vamos falar só de você e da Rafa hoje.

-Pare de fingir as coisas Helena.

-O que você quer que eu faça? que eu corra atrás do Gustavo e implore para que ele me conte porque foi embora e achou desnecessário avisar isso para mim? –perguntei chateada.

-Não, mas pelo menos para de fingir que isso não te machuca vejo em seus olhos que você quer chorar toda vez que fala dele. –disse me encarando.

-Edu, eu realmente fico mal quando me lembro do Gustavo, mas é só raiva, só isso!  -falei levantando. –Se precisar de alguma coisa estou na minha sala.

-Preciso que me ajude a comprar um presente para Rafa, um colar talvez. –disparou.

-Na saída nós vemos isso! –disse e sai de sua sala.

Passei a tarde resolvendo problemas e revisando alguns processos do Eduardo, resolvi naquela tarde esquecer do Gustavo e de que a volta dele me incomodava muito, acabei não percebendo a hora  passar quando vi o Edu sentado de frente para mim.

-Que foi? –perguntei.

-Você disse que ia me ajudar a comprar um presente. –falou.

-Já estou acabando. –falei empilhando os processos e guardando o celular na bolsa. –Vamos!

Escolhi um correntinha com pingente de notas musicais como a Rafaela cantava acho que era algo que combinava com ela já que eu não a conhecia tão bem. O Edu me deixou em casa e como não tinha culto fui direto para o banheiro.

-onde você estava? Te liguei e você não atendeu.

-Boa noite! -Falou beijando minha testa. -estava na casa do Guilherme e meu celular descarregou.

-Não tinha carregador lá não? 

-O que foi? Porque está tão irritada? 

 -Nada. –Falei entrando na lanchonete onde os jovens da igreja estavam reunidos.

-Oi Gu! –Taís a menina mais oferecida chegou falando como se eu não estivesse ali.

-Oi Tah! –Ele respondeu sorridente.

-O que vai fazer amanhã? Nós estávamos querendo ir a praia. -Falou se referindo a prima dela tão oferecida quanto.

-Amanhã não dá, tenho um trabalho da faculdade para concluir.

-Quem sabe na terça que não tem culto a gente poderia tomar um açaí.

-Pode ser. -Ele respondeu.

Eu estava observando os dois queria ver até onde aquela conversa iria parar minha paciência não era eterna e estava se esgotando.

-Vamos eu você e a Ingrid. -Falou.

-Oi tudo bem? -Falei séria fazendo os dois me encarar.

-Oi Nena! 

-Para você é Helena e se ainda não percebeu o Gustavo tem namorada que no caso sou eu e se ele for em algum lugar com você eu estarei junto. –Disse irritada.

-Calma Helena não confia no seu namorado? –Falou debochada.

-Confio, não confio em você. -Falei.

-Pois eu acho Gu que deveria procurar uma companhia melhor que essa pirralha que você chama de namorada.

-Olha aqui sua crente disfarçada é melhor você se respeitar...

-Ou você vai fazer o quê? -Falou me interrompendo.

Fui na direção dela e não quis saber de nada os centímetros a mais que ela tinha de mim não foram capazes de competir com a raiva que estava sentindo dela dei um tapa no rosto dela e antes de partir para o próximo o Gustavo me segurou e me puxou para ele.

-Me solta! -Disse gritando.

-Tá ficando maluca é? -Ele perguntou me encarando.

-Me larga. -Falei ao perceber que todos me olhavam surpresos.

Ele me soltou e eu peguei a bolsa e sai de onde estava eu não me arrependi do tapa daria até uns dez se tivesse chances, mas me arrependi de ter envergonhado o nome do Senhor. Caminhei a passos largos e me sentei nos degraus em frente a uma loja fechada. Chorei sentida pelo que tinha feito, eu realmente era insegurança o Gustavo era um homem muito desejado, cobiçado e que atraía olhares por onde passava e prendia atenção de qualquer mulher principalmente as cristãs que o tenha visto pregar pelo menos uma vez na vida.

-Ei! -Falou se sentando ao meu lado. -O que deu em você. -Perguntou com voz mais calma que antes.

-Eu estou com medo. -Falei sincera.

-Medo de quê amor? 

-Medo de perder você. 

-Mas você não vai me perder eu estarei sempre aqui para você, mas porque esse medo? 

-Todo mundo me cobra ser diferente, mais séria, mais centrada, mais crente, todo mundo olha para mim e me ver como uma pirralha como uma criança. Eu tô cansado de levar as expectativas das pessoas em minhas costas, eu sei que você é homem incrível e que merece alguém melhor que eu e por isso eu tenho medo, tenho ciúmes. -Falei abaixando a cabeça.

-Eu te amo Helena, eu gosto de você do jeito que é atrapalhada, extrovertida e leve se você não fosse do jeitinho que é talvez eu não te amasse tanto. Não existe nenhuma outra mulher que seja melhor que você para mim, nenhuma mais crente -falou rindo segurando minha mão. -Duvido que alguém que disse isso de você tenha mais santidade que você e me impulsione a melhorar tanto quanto você. 

-Você tá chateado comigo porque eu briguei com a Taís? 

-Não, só acho que você deveria se desculpar mesmo que ela tenha sido extremamente oferecida não foi uma atitude de cristã dá um tapa na cara dela. -Falou me olhando.
-Amanhã eu falo com ela.

-Não sabia que tinha uma namorada lutadora. -Disse rindo.

-Não seja idiota Guga. 

-Tem mais alguma coisa te chateando eu te conheço. -Falou.

-Eu não estou bem com Deus tem sido difícil orar. -Falei o encarando.

-É isso amor? Tá vendo como você é crente? Não aguenta viver sem Deus. –Falou beijando minha testa.

-Era eu que tinha que estar  forte, eu tinha que te ajudar em oração.

-Nena todo mundo enfraquece, todo mundo precisa de ajuda um dia, você já me ajudou antes e agora é minha vez. Tem alguém na sua casa? 

-Tem, porque?

-Vamos lá orar. -Falou me puxando para casa.

-Guga! 

-Quê?

-Obrigada! -Falei o abraçando.

 Liguei o chuveiro sobre mim e permitir que a água descesse junto com as lembranças e as lágrimas que tinha prendido o dia inteiro.Aquela era minha rotina desde que ele tinha ido embora, por mais que quisesse esquecer tudo que tinha acontecido cada canto daquela cidade parecia ter um pouco dele, me esbarrar com sua mãe ou com seus irmãos pelo supermercado e shopping só fazia eu me lembrar de que ele era parte de mim.

Até ir para igreja principalmente nos primeiros meses fora um martírio para mim, era extremamente dolorido sentar no nosso lugar de sempre e não ter suas mãos grandes e quentes entrelaçadas entre meus dedos e sua cabeça de forma desengonçada descansando em meu ombro.

Eu não podia dizer que tinha passado uma borracha no  passado ou que tinha virado a página da nossa história porque estaria mentindo, mas é que eu não conseguia, não era questão de me prender as lembranças ou a esperança de reatarmos era só  difícil olhar para trás e querer viver de novo tudo que vivemos juntos. Eu sei, é idiota! ele é e eu também, mas ele era responsável pela Helena mais feliz que um dia existiu. Era por isso que eu sentia tanto por ter ido embora. Sai do banheiro e enquanto enxugava o cabelo com uma toalha vi o celular vibrar em cima da cama.

-almoça comigo amanhã?

-Claro jake, porque não? –mandei a mensagem e instantaneamente um sorriso surgiu em meus lábios.

-Nossa é só isso mesmo? Não vai inventar uma desculpa ou algo tipo? –ele respondeu e eu acabei rindo porque as últimas tentativas dele tinha realmente sido frustradas por alguma desculpa esfarrapada.

-Não, eu acho que devo me desculpar te presenteado com minha presença em seu almoço.

-Kkkkkk com certeza um ótimo presente.

-te encontro depois da aula, só irei lá para almoçar com você.

-Até amanhã então, beijos!

Jake era o cara mais legal que eu tinha conhecido nesses últimos anos e além de ser gentil, educado e cavalheiro era super engraçado apenas um detalhe fazia todo encanto daquele par de olhos castanhos se desmontar, ele não era cristão.


Jantei e voltei para saga de reajustes do meu Tcc e  quando vi que tinha dado meu máximo me joguei de joelhos no chão e orei a Deus lhe contei tudo sobre meu dia e te pedi perdão por tudo que eu tinha feito, acabei adormecendo ainda ali no tapete do meu quarto e só acordei as 6:00hs com o despertador do celular.

***

-Oi! –falou chegando por trás da cadeira em que estava sentada terminando de guardar meus materiais.

-Oi! –respondi sorrindo. –achei que tinha se esquecido?

-Nunca, imagina que deixaria uma moça tão linda me esperando. –falou rindo e mesmo sendo um sorriso encantador eu ainda tinha guardado em mim o meu sorriso favorito.

-Vamos? –disse me estendendo a mão. –prometo que vai gostar do nosso almoço.

-Garanto que sim. –respondi sorrindo.

O Jake era um rapaz muito legal, inteligente e super bem humorado, mas mesmo que quisesse não havia nada entre nós que pudesse nos tornar algo a mais do que bons amigos. Ele me levou para almoçar num restaurante de comida japonesa e foi a primeira vez que comi esse tipo de comida no começo achei estranho e ele deu uma gargalhada ao ver minha careta ao comer o primeiro sushi, mas logo me acostumei com a textura e com o sabor.

-Estou dez minutos atrasada e provavelmente a Dona Ana vai arrancar minha cabeça fora. –falei ao olhar no relógio.

-Te levo até lá, tenho certeza que vai demorar bem menos que se for de ônibus. –disse me encarando com um sorriso nos lábios.

-Tá certo. –concordei.

Ele me deixou no meu trabalho que não ficava muito distante do restaurante, mesmo assim estava vinte minutos atrasada o que para minha chefe era um ótimo motivo para descontar do meu salário, mas depois daquele almoço agradável nem a Dona Ana iria tirar minha paz de espírito.

-Vinte minutos na carteira senhorita Helena. –disse assim que subi as escadas

-Tudo bem Dona Ana! –disse caminhando para minha sala.

-Não vai questionar ou justificar? –perguntou surpresa.

-Não! –disse voltando a caminhar.

Entrei na minha sala e joguei a bolsa na minha mesa e só então percebi que o Edu me encarava sentado na minha cadeira.

-Atrasada em ...-Falou olhando no relógio em seu braço. –Vinte e dois minutos.

-Se isso é para me irritar desista, meu almoço foi maravilhoso e isso compensa o meu desconto no final do mês. –disse puxando ele da minha cadeira.

-Nossa! O que aconteceu assim nesse seu almoço?

-Fui num restaurante de comida japonesa e acredita que eu gostei?

-Você odeia peixe! –disse com as sobrancelhas arqueadas.

-Odiava, o Jake me fez gostar a partir de hoje. –falei sorrindo.

-O Cara da sua faculdade que vivia te chamando pra sair? –perguntou surpreso.

-O próprio mais lindo e bem humorado do que sempre. –respondi enquanto ele revirava os olhos.

-Poupe-me dos detalhes Nena, mas então resolveu dá uma chance pra ele?

-Não existe probabilidade de haver um relacionamento até porque eu estou muito bem sozinha e ele não é cristão. –disse.

-A Rafa mandou te chamar para ir na casa dela hoje é aniversário dela. –Falou com um sorriso que não cabia no rosto.

-Já comprou o presente? –perguntei.

-Não, estava esperando você chegar, vamos logo porque eu não quero me atrasar. –falou.

-Eu acabei de chegar e sua mãe não vai me deixar sair. –disse.

-Seu chefe sou eu, então levanta daí e vamos logo. –Disse levantando os óculos pela segunda vez o que me fazia perceber que estava nervoso.

-Porque você está nervoso? –perguntei.

-Vou pedi a Rafa em namoro hoje já conversei com os pais e com nossos pastores. –disse tímido.

-Aaaaaaah! –dei um grito – Parabéns!!!! –falei gritando de novo.

-Cala essa boca Helena!. –disse rindo.

-Desculpa! Até que fim vai desencalhar, isso merecer uma comemoração. –disse puxando ele pelo braço. –Um milk shake com certeza é uma ótima comemoração.

Fomos até o shopping que ficava do lado do escritório e o Edu comprou um anel para pedir a Rafaela em namoro e um  livro que ela havia dito que queria ler, acabei comprando um livro também. No fim do expediente o Edu me deixou em casa como fazia sempre e eu fui me arrumar para o aniversário, vesti um vestido vermelho e longo , calcei um salto preto baixo e peguei minha bolsa preta, soltei o cabelo fiz uma maquiagem fraca.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O que sobrou de mim -Capítulo dois



-Não acredito que você não disse nem um oi pra ele. –Ela dizia como se fosse uma obrigação minha cumprimentar meu ex-namorado que não se deu nem o trabalho de terminar comigo.

-Mãe, pelo amor de Deus! Eu estou falando do Gustavo e não de um amigo. –Disse séria –
Eu nem pensei duas vezes antes de levantar e sair do mesmo local onde ele estava, graças a Deus o Edu estava lá.

-Devo agradecer o Edu por isso? –perguntou sarcástica.

-mãe! Eu sei que você gosta do Gustavo, mas eu ainda sou sua filha e eu acho que você deveria ficar do meu lado.

-Eu acho que você ainda gosta dele não existe outro motivo para presença dele te afetar tanto.

-O fato dele ter me abandonado e não ter dado noticias por quatro anos são motivos suficiente para que a presença dele me afete. –disse indo para o meu quarto.
Minha mãe era esse tipo de pessoa que vê o lado bom das pessoas mesmo que não exista lado bom, ela sempre gostou do Gustavo lembro que quando disse para ela que estávamos orando sobre namorarmos ou não ela quase surtou.

-O Gustavo é um rapaz de família, trabalhador, é mais velho já está na faculdade é obvio que ele é o cara certo pra você porque nem vou contar a beleza não é? Filha quem tem o sorriso mais bonito que ele? E aquelas covinhas? Se tivesse sua idade e não amasse tanto seu pai ele não me escapava. –falou rindo me fazendo gargalhar.

Já tinha 7 dias que ela não parava de me atormentar dizendo que eu precisava enfrentar o Gustavo e dizer tudo que sentia e todo mal que ele havia me causado, mas isso não tinha lógica eu me conhecia maravilhosamente bem para saber que não conseguiria dizer uma só palavra antes de me derramar em lágrimas.

Sentia tanta falta dele, tanta saudade do estar dentro do seu abraço e ter a certeza de que me amava e que estaria ali comigo em todos os momentos, que sempre que as coisas ficassem difíceis ele me abraçaria apertado e falaria no meu ouvido que tudo ficaria bem.

Odiava o cheiro do seu perfume comum que sentia em cada esquina da cidade e me fazia achar por vezes que ele tinha voltado e estava ali, mas o que mais odiava era aquela dor agonizante que sentia por ter a certeza de que nunca o teria de volta  a saudade me tirava o fôlego e eu me odiava por isso, eu o odiava, odiava o fato de um dia termos sido “nós”

***

-Será que você pode me levar no ensaio das crianças hoje? –Lara perguntou ela era minha irmã mais nova e única também.

-Claro, mas é que horas?

-14:00hs, mas a tia Thamy falou que não podia me atrasar.

-Tudo bem, depois do almoço esteja pronta que eu te levo lá agora eu vou terminar esse trabalho da faculdade certo? –perguntei.

-Você é a melhor irmã do mundo. –Disse me abraçando.

-Você também! –disse beijando sua bochecha.

Depois do almoço eu vesti uma calça jeans e uma batinha branca , soltei o cabelo  peguei o carro do meu pai que estava na garagem e levei a Lara para igreja. Assim que chegamos eu o vi parado na porta da igreja parecia esperar por alguém e eu esperava que não fosse por mim. Meu coração bateu acelerado e a vontade de dá volta no carro e ir embora tomou conta de mim.

-desce aqui Lara! –falei tentando controlar o nervosismo que já tomava conta de mim.

-Você prometeu que ia ficar o ensaio terminar em uma hora e meia se você for pra casa vai acabar dormindo e me esquecendo aqui. –disse me obrigando a descer do carro.
Se eu fosse para casa eu me culparia por não ter o enfrentado e também dormiria porque sábado a tarde era meu momento de descanso de toda semana agitada que tinha. Respirei fundo tentando acumular o máximo de oxigênio que podia na tentativa de que isso me acalmasse.

-Guga! –Lara soltou minha mão e correu até ele que a abraçou apertado e a girou tirando do chão.

Involuntariamente um sorriso surgiu em meus lábios, mas logo fiquei triste ao ver a cena e lembrar de que minha irmã era tão grudada nele que depois que ele foi embora sempre chorava perguntando por ele o que fazia eu o odiar ainda mais, porque não bastava quebrar meu coração ele ainda fez minha irmã sofrer, mas ao contrario de mim ela parecia ter esquecido disso e conversava algo com ele e os dois tinham enormes sorrisos nos lábios.

Me forcei a caminhar na direção deles porque eu tinha que esperar por ela e faria questão de ficar dentro da igreja.

-Oi! –disse ao me ver quando colocando minha irmã no chão.
Ele estava mais forte, mais bonito e ainda mais cheiroso, meu corpo não obedecia mais aos meus comandos e meu coração batia tão acelerado que parecia querer sair pela boca, meu corpo todo ficou tenso e eu me obriguei a responder.

-Oi. –disse seca. –Vamos Lara, você precisa entrar lembra que não pode se atrasar? –perguntei a ela.

-Tchau Guga! –Ela disse lhe dando um abraço apertado e ele lhe deu um beijo na testa.

-Será que depois nós poderíamos conversar? –Perguntou me encarando com aqueles olhos pretos.

-Não! –disse puxando a Lara pra dentro da igreja.

Ela correu para salinha das crianças e eu me sentei em um banco qualquer da igreja, eu não podia conversar com ele sabia do quanto eu estava machucada e não queria perder a razão caso eu lhe desse alguns socos e tapas ao invés de conversarmos. Fiquei ali pensando ou tentando não pensar em nada que envolvesse o Gustavo enquanto a Lara ensaiava.

-Vamos? – Lara perguntou sorridente.

-Que cara é essa? –Thamy perguntou e provavelmente não sabia que o primo dela estava do lado de fora da igreja querendo conversar comigo depois de quatro anos.

-O Guga tá lá fora. –A Lara falou antes que eu pudesse responder.

-Vamos Lara! –disse me levantando e saindo e as duas vieram atrás de mim.

Ele ainda estava lá apoiado a um carro com os braços cruzados sobre o peito.

-Nena! –ouvi-lo chamar meu apelido foi como apertar o botão das recordações. Respirei fundo e decidi que era melhor enfrentar aquela conversa o quanto antes.

-Vamos na sorveteria. –Thamy puxou a Lara para sorveteria que tinha bem perto da igreja.

-O que foi? –disse seca.

-Desculpa, desculpa por tudo. –falou fitando o chão.

Aquele pedido de desculpa quatro anos depois fez todo meu corpo inflamar de raiva, ele me machucou, me abandonou e agora com um pedido de desculpa achava que tudo iria ficar bem?

-È tudo que você tem a me dizer? –perguntei irônica –Passar bem! –Falei virando as costas voltando para o carro.

-Ei! –falou segurando meu braço fazendo meu coração acelerar ainda mais. –Eu amo você.

-Ama? Ama mesmo? –perguntei irônica.

-Você não acredita  em mim? –perguntou.

-Não seja ridículo Gustavo você some por quatro anos, QUATRO ANOS! –disse gritando. –

E agora quer que eu acredite que me ama? Você nem se importou de me dar um tchau.

-Eu não podia! –disse e nunca vi seus olhos tão triste como naquele momento em que me encarava.

-Eu era sua namorada eu merecia uma explicação! –falei e entrei no carro .

Parei o carro na frente da sorveteria  Lara e Thamy entraram eu não iria conseguir dizer nada antes que lágrimas escorressem em meu rosto e acho que perceberam isso e nem perguntaram nada sobre a conversa. Cheguei em casa fui para o quarto e me joguei na cama deixei todas as lágrimas retidas naquele dia cair naquele momento, meu coração estava apertado e uma dor insuportável me apertava. Eu orei tanto para que Deus me fizesse esquecer o Gustavo, pedi tanto para que ele não deixasse aquela ferida se abrir de novo, mas no momento em que vi o Gustavo eu soube que aquela ferida nunca esteve sarada e ter fingido que ela tinha sido curada talvez tenha feito ela inflamar e agora doía tanto ou mais que antes.

-Chamei a Rafa para ir no cinema. – Atendi a ligação e o Edu já foi falando.

-Que ótimo! Até que fim tomou atitude de homem!

-Eu estava esperando a oportunidade certa para isso. –falou e pela voz soube que estava sorrindo.

-pelo amor de Deus deixa ela escolher o filme porque ninguém merecer assistir um filme de terror num encontro. –falei tentando parecer animada.

-Não é um encontro digamos que seja um passeio. –falou rindo.

-tá bom e só pra lembrar não tente beijar ela vocês dois são crentes e isso não seria certo. 
–falei e dessa vez meu riso foi sincero.

-Não se preocupe! O que foi que aconteceu, sua voz está embargada.

Meu amigo realmente me conhecia tínhamos uma sintonia que não consigo explicar.

-Conversei com o Gustavo hoje.

-E? –perguntou.

-ele pediu desculpas e disse que me ama como se depois de quatro anos isso fosse resolver alguma coisa.

-Sei. –disse.

-É isso que meu melhor amigo tem a me dizer depois dessa declaração?

-Você  sabe o que eu penso, você continua amando ele e ele continua amando você e mesmo que essas desculpas não mudem nada e não justifiquem ele ter ido sem se despedir vocês ainda são completamente apaixonados um pelo outro.

-me poupe Eduardo, vai logo pro seu encontro ! –falei desligando a ligação.
Não tinha a mínima possibilidade de ainda estar apaixonada pelo meu ex namorado sumido por quatro anos que aparece do nada e resolve infernizar minha vida como se ela já não fosse tão conturbada assim.
BÔNUS
Por Gustavo

Voltar para minha cidade depois de quatro anos foi mais difícil do que eu imaginava, não que eu quisesse continuar em São Paulo eu sempre amei Salvador, mas Voltar para minha cidade significava ter a Helena por perto mesmo tendo conhecimento de que Salvador é enorme, só o fato de saber que poderia encontra-la em qualquer lugar me apertava o coração. E embora o que mais quisesse era tê-la por perto sabia que ela deveria me odiar por ter ido embora e ter a certeza de não poder tê-la comigo era uma sensação desesperadora.

Eu amava a Helena de uma forma que nunca soube explicar e isso era engraçado porque quando nos conhecemos eu me apaixonei de cara, aquela menina de 16 anos era mais madura do que muita gente mais velha que eu conhecia, sua inteligência, determinação, sua agitação e alegria me prenderam no primeiro dia em que a vi, mas foi quando eu descobri sua paixão por Deus e o quanto ela amava estudar a bíblia que eu me apaixonei por completo.

Sua beleza física era apenas a cereja do bolo ela era a mulher mais completa que conhecia. Eu amava ficar encarando ela, seus olhos castanhos claros, seu sorriso encantador, seu nariz pequeno, sua boca, seus cabelos lisos levemente ondulados nas pontas, tudo, absolutamente tudo nela era lindo.

Eu tinha que ir para São Paulo e isso era algo que eu não podia mudar, eu iria estudar em uma das melhores universidades do Brasil, no curso que já fazia e amava, estaria perto do meu pai que já morava lá, teria oportunidades que talvez nunca tivesse se continuasse em Salvador. São Paulo era a oportunidade que eu tinha de viver e de viver bem.

Eu sabia que a Helena iria enlouquecer quando soubesse, sabia que ela não iria me perdoar por partir, mas eu precisava ir, precisava ir em busca dos meus sonhos e da minha vida. Resolvi que não iria me despedi eu sabia que era incapaz de olhar nos olhos castanhos dela e dizer que eu estava indo, porque não estava apenas indo embora estava a deixando para trás, deixando o amor da minha vida para trás. Meu coração se apertou quando a vi pela última vez, fiquei tanto tempo a encarando queria guardar na memória cada traço do seu rosto, queria ter o gosto do seu beijo pra sempre, queria tê-la dentro do meu abraço para sempre, queria apoiar minha cabeça do seu ombro e ter sua mão entre a minha enquanto eu respirasse, mas eu realmente precisava ir. 


Eu tinha certeza de que ela ficaria bem, que ela iria me esquecer. Eu a amava profundamente e sabia que ela me amava, mas não tanto quanto eu a amava. Por isso achei que depois que o tempo passasse eu seria apenas alguém no seu passado. Mas quando voltei para Salvador e a encontrei na sala da casa da Rafa eu tive certeza de que ela não havia me esquecido e que tanto quanto eu ela sentia saudade de nós dois. E eu me odiava por ter ido, me odiava por não ter lhe dito a verdade, por não ter ao menos me despedido.
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