-Não acredito que você não
disse nem um oi pra ele. –Ela dizia como se fosse uma obrigação minha
cumprimentar meu ex-namorado que não se deu nem o trabalho de terminar comigo.
-Mãe, pelo amor de Deus! Eu
estou falando do Gustavo e não de um amigo. –Disse séria –
Eu nem pensei duas
vezes antes de levantar e sair do mesmo local onde ele estava, graças a Deus o
Edu estava lá.
-Devo agradecer o Edu por
isso? –perguntou sarcástica.
-mãe! Eu sei que você gosta
do Gustavo, mas eu ainda sou sua filha e eu acho que você deveria ficar do meu
lado.
-Eu acho que você ainda
gosta dele não existe outro motivo para presença dele te afetar tanto.
-O fato dele ter me
abandonado e não ter dado noticias por quatro anos são motivos suficiente para
que a presença dele me afete. –disse indo para o meu quarto.
Minha mãe era esse tipo de
pessoa que vê o lado bom das pessoas mesmo que não exista lado bom, ela sempre
gostou do Gustavo lembro que quando disse para ela que estávamos orando sobre
namorarmos ou não ela quase surtou.
-O Gustavo é um rapaz de
família, trabalhador, é mais velho já está na faculdade é obvio que ele é o
cara certo pra você porque nem vou contar a beleza não é? Filha quem tem o
sorriso mais bonito que ele? E aquelas covinhas? Se tivesse sua idade e não
amasse tanto seu pai ele não me escapava. –falou rindo me fazendo gargalhar.
Já tinha 7 dias que ela não
parava de me atormentar dizendo que eu precisava enfrentar o Gustavo e dizer
tudo que sentia e todo mal que ele havia me causado, mas isso não tinha lógica
eu me conhecia maravilhosamente bem para saber que não conseguiria dizer uma só
palavra antes de me derramar em lágrimas.
Sentia tanta falta dele,
tanta saudade do estar dentro do seu abraço e ter a certeza de que me amava e
que estaria ali comigo em todos os momentos, que sempre que as coisas ficassem
difíceis ele me abraçaria apertado e falaria no meu ouvido que tudo ficaria
bem.
Odiava o cheiro do seu
perfume comum que sentia em cada esquina da cidade e me fazia achar por vezes
que ele tinha voltado e estava ali, mas o que mais odiava era aquela dor agonizante
que sentia por ter a certeza de que nunca o teria de volta a saudade me tirava o fôlego e eu me odiava
por isso, eu o odiava, odiava o fato de um dia termos sido “nós”
***
-Será que você pode me levar
no ensaio das crianças hoje? –Lara perguntou ela era minha irmã mais nova e
única também.
-Claro, mas é que horas?
-14:00hs, mas a tia Thamy
falou que não podia me atrasar.
-Tudo bem, depois do almoço
esteja pronta que eu te levo lá agora eu vou terminar esse trabalho da
faculdade certo? –perguntei.
-Você é a melhor irmã do
mundo. –Disse me abraçando.
-Você também! –disse
beijando sua bochecha.
Depois do almoço eu vesti
uma calça jeans e uma batinha branca , soltei o cabelo peguei o carro do meu pai que estava na
garagem e levei a Lara para igreja. Assim que chegamos eu o vi parado na porta
da igreja parecia esperar por alguém e eu esperava que não fosse por mim. Meu
coração bateu acelerado e a vontade de dá volta no carro e ir embora tomou
conta de mim.
-desce aqui Lara! –falei
tentando controlar o nervosismo que já tomava conta de mim.
-Você prometeu que ia ficar
o ensaio terminar em uma hora e meia se você for pra casa vai acabar dormindo e
me esquecendo aqui. –disse me obrigando a descer do carro.
Se eu fosse para casa eu me
culparia por não ter o enfrentado e também dormiria porque sábado a tarde era
meu momento de descanso de toda semana agitada que tinha. Respirei fundo
tentando acumular o máximo de oxigênio que podia na tentativa de que isso me
acalmasse.
-Guga! –Lara soltou minha
mão e correu até ele que a abraçou apertado e a girou tirando do chão.
Involuntariamente um sorriso
surgiu em meus lábios, mas logo fiquei triste ao ver a cena e lembrar de que
minha irmã era tão grudada nele que depois que ele foi embora sempre chorava
perguntando por ele o que fazia eu o odiar ainda mais, porque não bastava quebrar
meu coração ele ainda fez minha irmã sofrer, mas ao contrario de mim ela
parecia ter esquecido disso e conversava algo com ele e os dois tinham enormes
sorrisos nos lábios.
Me forcei a caminhar na
direção deles porque eu tinha que esperar por ela e faria questão de ficar
dentro da igreja.
-Oi! –disse ao me ver quando
colocando minha irmã no chão.
Ele estava mais forte, mais
bonito e ainda mais cheiroso, meu corpo não obedecia mais aos meus comandos e
meu coração batia tão acelerado que parecia querer sair pela boca, meu corpo
todo ficou tenso e eu me obriguei a responder.
-Oi. –disse seca. –Vamos
Lara, você precisa entrar lembra que não pode se atrasar? –perguntei a ela.
-Tchau Guga! –Ela disse lhe
dando um abraço apertado e ele lhe deu um beijo na testa.
-Será que depois nós
poderíamos conversar? –Perguntou me encarando com aqueles olhos pretos.
-Não! –disse puxando a Lara
pra dentro da igreja.
Ela correu para salinha das
crianças e eu me sentei em um banco qualquer da igreja, eu não podia conversar
com ele sabia do quanto eu estava machucada e não queria perder a razão caso eu
lhe desse alguns socos e tapas ao invés de conversarmos. Fiquei ali pensando ou
tentando não pensar em nada que envolvesse o Gustavo enquanto a Lara ensaiava.
-Vamos? – Lara perguntou
sorridente.
-Que cara é essa? –Thamy
perguntou e provavelmente não sabia que o primo dela estava do lado de fora da
igreja querendo conversar comigo depois de quatro anos.
-O Guga tá lá fora. –A Lara
falou antes que eu pudesse responder.
-Vamos Lara! –disse me
levantando e saindo e as duas vieram atrás de mim.
Ele ainda estava lá apoiado
a um carro com os braços cruzados sobre o peito.
-Nena! –ouvi-lo chamar meu
apelido foi como apertar o botão das recordações. Respirei fundo e decidi que
era melhor enfrentar aquela conversa o quanto antes.
-Vamos na sorveteria. –Thamy
puxou a Lara para sorveteria que tinha bem perto da igreja.
-O que foi? –disse seca.
-Desculpa, desculpa por
tudo. –falou fitando o chão.
Aquele pedido de desculpa
quatro anos depois fez todo meu corpo inflamar de raiva, ele me machucou, me
abandonou e agora com um pedido de desculpa achava que tudo iria ficar bem?
-È tudo que você tem a me
dizer? –perguntei irônica –Passar bem! –Falei virando as costas voltando para o
carro.
-Ei! –falou segurando meu
braço fazendo meu coração acelerar ainda mais. –Eu amo você.
-Ama? Ama mesmo? –perguntei
irônica.
-Você não acredita em mim? –perguntou.
-Não seja ridículo Gustavo
você some por quatro anos, QUATRO ANOS! –disse gritando. –
E agora quer que eu
acredite que me ama? Você nem se importou de me dar um tchau.
-Eu não podia! –disse e
nunca vi seus olhos tão triste como naquele momento em que me encarava.
-Eu era sua namorada eu
merecia uma explicação! –falei e entrei no carro .
Parei o carro na frente da
sorveteria Lara e Thamy entraram eu não
iria conseguir dizer nada antes que lágrimas escorressem em meu rosto e acho
que perceberam isso e nem perguntaram nada sobre a conversa. Cheguei em casa
fui para o quarto e me joguei na cama deixei todas as lágrimas retidas naquele
dia cair naquele momento, meu coração estava apertado e uma dor insuportável me
apertava. Eu orei tanto para que Deus me fizesse esquecer o Gustavo, pedi tanto
para que ele não deixasse aquela ferida se abrir de novo, mas no momento em que
vi o Gustavo eu soube que aquela ferida nunca esteve sarada e ter fingido que
ela tinha sido curada talvez tenha feito ela inflamar e agora doía tanto ou
mais que antes.
-Chamei a Rafa para ir no
cinema. – Atendi a ligação e o Edu já foi falando.
-Que ótimo! Até que fim
tomou atitude de homem!
-Eu estava esperando a
oportunidade certa para isso. –falou e pela voz soube que estava sorrindo.
-pelo amor de Deus deixa ela
escolher o filme porque ninguém merecer assistir um filme de terror num encontro.
–falei tentando parecer animada.
-Não é um encontro digamos
que seja um passeio. –falou rindo.
-tá bom e só pra lembrar não
tente beijar ela vocês dois são crentes e isso não seria certo.
–falei e dessa
vez meu riso foi sincero.
-Não se preocupe! O que foi
que aconteceu, sua voz está embargada.
Meu amigo realmente me
conhecia tínhamos uma sintonia que não consigo explicar.
-Conversei com o Gustavo
hoje.
-E? –perguntou.
-ele pediu desculpas e disse
que me ama como se depois de quatro anos isso fosse resolver alguma coisa.
-Sei. –disse.
-É isso que meu melhor amigo
tem a me dizer depois dessa declaração?
-Você sabe o que eu penso, você continua amando ele
e ele continua amando você e mesmo que essas desculpas não mudem nada e não
justifiquem ele ter ido sem se despedir vocês ainda são completamente
apaixonados um pelo outro.
-me poupe Eduardo, vai logo
pro seu encontro ! –falei desligando a ligação.
Não tinha a mínima
possibilidade de ainda estar apaixonada pelo meu ex namorado sumido por quatro
anos que aparece do nada e resolve infernizar minha vida como se ela já não
fosse tão conturbada assim.
BÔNUS
Por
Gustavo
Voltar para minha cidade depois de quatro
anos foi mais difícil do que eu imaginava, não que eu quisesse continuar em São
Paulo eu sempre amei Salvador, mas Voltar para minha cidade significava ter a
Helena por perto mesmo tendo conhecimento de que Salvador é enorme, só o fato
de saber que poderia encontra-la em qualquer lugar me apertava o coração. E embora o que mais quisesse era tê-la por
perto sabia que ela deveria me odiar por ter ido embora e ter a certeza de não poder
tê-la comigo era uma sensação desesperadora.
Eu amava a Helena de uma forma que nunca
soube explicar e isso era engraçado porque quando nos conhecemos eu me
apaixonei de cara, aquela menina de 16 anos era mais madura do que muita gente
mais velha que eu conhecia, sua inteligência, determinação, sua agitação e
alegria me prenderam no primeiro dia em que a vi, mas foi quando eu descobri
sua paixão por Deus e o quanto ela amava estudar a bíblia que eu me apaixonei
por completo.
Sua beleza física era apenas a cereja do
bolo ela era a mulher mais completa que conhecia. Eu amava ficar encarando ela,
seus olhos castanhos claros, seu sorriso encantador, seu nariz pequeno, sua
boca, seus cabelos lisos levemente ondulados nas pontas, tudo, absolutamente
tudo nela era lindo.
Eu tinha que ir para São Paulo e isso era
algo que eu não podia mudar, eu iria estudar em uma das melhores universidades
do Brasil, no curso que já fazia e amava, estaria perto do meu pai que já
morava lá, teria oportunidades que talvez nunca tivesse se continuasse em
Salvador. São Paulo era a oportunidade que eu tinha de viver e de viver bem.
Eu sabia que a Helena iria enlouquecer
quando soubesse, sabia que ela não iria me perdoar por partir, mas eu precisava
ir, precisava ir em busca dos meus sonhos e da minha vida. Resolvi que não iria
me despedi eu sabia que era incapaz de olhar nos olhos castanhos dela e dizer
que eu estava indo, porque não estava apenas indo embora estava a deixando para
trás, deixando o amor da minha vida para trás. Meu coração se apertou quando a
vi pela última vez, fiquei tanto tempo a encarando queria guardar na memória
cada traço do seu rosto, queria ter o gosto do seu beijo pra sempre, queria
tê-la dentro do meu abraço para sempre, queria apoiar minha cabeça do seu ombro
e ter sua mão entre a minha enquanto eu respirasse, mas eu realmente precisava
ir.
Eu tinha certeza de que ela ficaria bem,
que ela iria me esquecer. Eu a amava profundamente e sabia que ela me amava,
mas não tanto quanto eu a amava. Por isso achei que depois que o tempo passasse
eu seria apenas alguém no seu passado. Mas quando voltei para Salvador e a
encontrei na sala da casa da Rafa eu tive certeza de que ela não havia me
esquecido e que tanto quanto eu ela sentia saudade de nós dois. E eu me odiava
por ter ido, me odiava por não ter lhe dito a verdade, por não ter ao menos me
despedido.
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