sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O que sobrou de mim -Capítulo dois



-Não acredito que você não disse nem um oi pra ele. –Ela dizia como se fosse uma obrigação minha cumprimentar meu ex-namorado que não se deu nem o trabalho de terminar comigo.

-Mãe, pelo amor de Deus! Eu estou falando do Gustavo e não de um amigo. –Disse séria –
Eu nem pensei duas vezes antes de levantar e sair do mesmo local onde ele estava, graças a Deus o Edu estava lá.

-Devo agradecer o Edu por isso? –perguntou sarcástica.

-mãe! Eu sei que você gosta do Gustavo, mas eu ainda sou sua filha e eu acho que você deveria ficar do meu lado.

-Eu acho que você ainda gosta dele não existe outro motivo para presença dele te afetar tanto.

-O fato dele ter me abandonado e não ter dado noticias por quatro anos são motivos suficiente para que a presença dele me afete. –disse indo para o meu quarto.
Minha mãe era esse tipo de pessoa que vê o lado bom das pessoas mesmo que não exista lado bom, ela sempre gostou do Gustavo lembro que quando disse para ela que estávamos orando sobre namorarmos ou não ela quase surtou.

-O Gustavo é um rapaz de família, trabalhador, é mais velho já está na faculdade é obvio que ele é o cara certo pra você porque nem vou contar a beleza não é? Filha quem tem o sorriso mais bonito que ele? E aquelas covinhas? Se tivesse sua idade e não amasse tanto seu pai ele não me escapava. –falou rindo me fazendo gargalhar.

Já tinha 7 dias que ela não parava de me atormentar dizendo que eu precisava enfrentar o Gustavo e dizer tudo que sentia e todo mal que ele havia me causado, mas isso não tinha lógica eu me conhecia maravilhosamente bem para saber que não conseguiria dizer uma só palavra antes de me derramar em lágrimas.

Sentia tanta falta dele, tanta saudade do estar dentro do seu abraço e ter a certeza de que me amava e que estaria ali comigo em todos os momentos, que sempre que as coisas ficassem difíceis ele me abraçaria apertado e falaria no meu ouvido que tudo ficaria bem.

Odiava o cheiro do seu perfume comum que sentia em cada esquina da cidade e me fazia achar por vezes que ele tinha voltado e estava ali, mas o que mais odiava era aquela dor agonizante que sentia por ter a certeza de que nunca o teria de volta  a saudade me tirava o fôlego e eu me odiava por isso, eu o odiava, odiava o fato de um dia termos sido “nós”

***

-Será que você pode me levar no ensaio das crianças hoje? –Lara perguntou ela era minha irmã mais nova e única também.

-Claro, mas é que horas?

-14:00hs, mas a tia Thamy falou que não podia me atrasar.

-Tudo bem, depois do almoço esteja pronta que eu te levo lá agora eu vou terminar esse trabalho da faculdade certo? –perguntei.

-Você é a melhor irmã do mundo. –Disse me abraçando.

-Você também! –disse beijando sua bochecha.

Depois do almoço eu vesti uma calça jeans e uma batinha branca , soltei o cabelo  peguei o carro do meu pai que estava na garagem e levei a Lara para igreja. Assim que chegamos eu o vi parado na porta da igreja parecia esperar por alguém e eu esperava que não fosse por mim. Meu coração bateu acelerado e a vontade de dá volta no carro e ir embora tomou conta de mim.

-desce aqui Lara! –falei tentando controlar o nervosismo que já tomava conta de mim.

-Você prometeu que ia ficar o ensaio terminar em uma hora e meia se você for pra casa vai acabar dormindo e me esquecendo aqui. –disse me obrigando a descer do carro.
Se eu fosse para casa eu me culparia por não ter o enfrentado e também dormiria porque sábado a tarde era meu momento de descanso de toda semana agitada que tinha. Respirei fundo tentando acumular o máximo de oxigênio que podia na tentativa de que isso me acalmasse.

-Guga! –Lara soltou minha mão e correu até ele que a abraçou apertado e a girou tirando do chão.

Involuntariamente um sorriso surgiu em meus lábios, mas logo fiquei triste ao ver a cena e lembrar de que minha irmã era tão grudada nele que depois que ele foi embora sempre chorava perguntando por ele o que fazia eu o odiar ainda mais, porque não bastava quebrar meu coração ele ainda fez minha irmã sofrer, mas ao contrario de mim ela parecia ter esquecido disso e conversava algo com ele e os dois tinham enormes sorrisos nos lábios.

Me forcei a caminhar na direção deles porque eu tinha que esperar por ela e faria questão de ficar dentro da igreja.

-Oi! –disse ao me ver quando colocando minha irmã no chão.
Ele estava mais forte, mais bonito e ainda mais cheiroso, meu corpo não obedecia mais aos meus comandos e meu coração batia tão acelerado que parecia querer sair pela boca, meu corpo todo ficou tenso e eu me obriguei a responder.

-Oi. –disse seca. –Vamos Lara, você precisa entrar lembra que não pode se atrasar? –perguntei a ela.

-Tchau Guga! –Ela disse lhe dando um abraço apertado e ele lhe deu um beijo na testa.

-Será que depois nós poderíamos conversar? –Perguntou me encarando com aqueles olhos pretos.

-Não! –disse puxando a Lara pra dentro da igreja.

Ela correu para salinha das crianças e eu me sentei em um banco qualquer da igreja, eu não podia conversar com ele sabia do quanto eu estava machucada e não queria perder a razão caso eu lhe desse alguns socos e tapas ao invés de conversarmos. Fiquei ali pensando ou tentando não pensar em nada que envolvesse o Gustavo enquanto a Lara ensaiava.

-Vamos? – Lara perguntou sorridente.

-Que cara é essa? –Thamy perguntou e provavelmente não sabia que o primo dela estava do lado de fora da igreja querendo conversar comigo depois de quatro anos.

-O Guga tá lá fora. –A Lara falou antes que eu pudesse responder.

-Vamos Lara! –disse me levantando e saindo e as duas vieram atrás de mim.

Ele ainda estava lá apoiado a um carro com os braços cruzados sobre o peito.

-Nena! –ouvi-lo chamar meu apelido foi como apertar o botão das recordações. Respirei fundo e decidi que era melhor enfrentar aquela conversa o quanto antes.

-Vamos na sorveteria. –Thamy puxou a Lara para sorveteria que tinha bem perto da igreja.

-O que foi? –disse seca.

-Desculpa, desculpa por tudo. –falou fitando o chão.

Aquele pedido de desculpa quatro anos depois fez todo meu corpo inflamar de raiva, ele me machucou, me abandonou e agora com um pedido de desculpa achava que tudo iria ficar bem?

-È tudo que você tem a me dizer? –perguntei irônica –Passar bem! –Falei virando as costas voltando para o carro.

-Ei! –falou segurando meu braço fazendo meu coração acelerar ainda mais. –Eu amo você.

-Ama? Ama mesmo? –perguntei irônica.

-Você não acredita  em mim? –perguntou.

-Não seja ridículo Gustavo você some por quatro anos, QUATRO ANOS! –disse gritando. –

E agora quer que eu acredite que me ama? Você nem se importou de me dar um tchau.

-Eu não podia! –disse e nunca vi seus olhos tão triste como naquele momento em que me encarava.

-Eu era sua namorada eu merecia uma explicação! –falei e entrei no carro .

Parei o carro na frente da sorveteria  Lara e Thamy entraram eu não iria conseguir dizer nada antes que lágrimas escorressem em meu rosto e acho que perceberam isso e nem perguntaram nada sobre a conversa. Cheguei em casa fui para o quarto e me joguei na cama deixei todas as lágrimas retidas naquele dia cair naquele momento, meu coração estava apertado e uma dor insuportável me apertava. Eu orei tanto para que Deus me fizesse esquecer o Gustavo, pedi tanto para que ele não deixasse aquela ferida se abrir de novo, mas no momento em que vi o Gustavo eu soube que aquela ferida nunca esteve sarada e ter fingido que ela tinha sido curada talvez tenha feito ela inflamar e agora doía tanto ou mais que antes.

-Chamei a Rafa para ir no cinema. – Atendi a ligação e o Edu já foi falando.

-Que ótimo! Até que fim tomou atitude de homem!

-Eu estava esperando a oportunidade certa para isso. –falou e pela voz soube que estava sorrindo.

-pelo amor de Deus deixa ela escolher o filme porque ninguém merecer assistir um filme de terror num encontro. –falei tentando parecer animada.

-Não é um encontro digamos que seja um passeio. –falou rindo.

-tá bom e só pra lembrar não tente beijar ela vocês dois são crentes e isso não seria certo. 
–falei e dessa vez meu riso foi sincero.

-Não se preocupe! O que foi que aconteceu, sua voz está embargada.

Meu amigo realmente me conhecia tínhamos uma sintonia que não consigo explicar.

-Conversei com o Gustavo hoje.

-E? –perguntou.

-ele pediu desculpas e disse que me ama como se depois de quatro anos isso fosse resolver alguma coisa.

-Sei. –disse.

-É isso que meu melhor amigo tem a me dizer depois dessa declaração?

-Você  sabe o que eu penso, você continua amando ele e ele continua amando você e mesmo que essas desculpas não mudem nada e não justifiquem ele ter ido sem se despedir vocês ainda são completamente apaixonados um pelo outro.

-me poupe Eduardo, vai logo pro seu encontro ! –falei desligando a ligação.
Não tinha a mínima possibilidade de ainda estar apaixonada pelo meu ex namorado sumido por quatro anos que aparece do nada e resolve infernizar minha vida como se ela já não fosse tão conturbada assim.
BÔNUS
Por Gustavo

Voltar para minha cidade depois de quatro anos foi mais difícil do que eu imaginava, não que eu quisesse continuar em São Paulo eu sempre amei Salvador, mas Voltar para minha cidade significava ter a Helena por perto mesmo tendo conhecimento de que Salvador é enorme, só o fato de saber que poderia encontra-la em qualquer lugar me apertava o coração. E embora o que mais quisesse era tê-la por perto sabia que ela deveria me odiar por ter ido embora e ter a certeza de não poder tê-la comigo era uma sensação desesperadora.

Eu amava a Helena de uma forma que nunca soube explicar e isso era engraçado porque quando nos conhecemos eu me apaixonei de cara, aquela menina de 16 anos era mais madura do que muita gente mais velha que eu conhecia, sua inteligência, determinação, sua agitação e alegria me prenderam no primeiro dia em que a vi, mas foi quando eu descobri sua paixão por Deus e o quanto ela amava estudar a bíblia que eu me apaixonei por completo.

Sua beleza física era apenas a cereja do bolo ela era a mulher mais completa que conhecia. Eu amava ficar encarando ela, seus olhos castanhos claros, seu sorriso encantador, seu nariz pequeno, sua boca, seus cabelos lisos levemente ondulados nas pontas, tudo, absolutamente tudo nela era lindo.

Eu tinha que ir para São Paulo e isso era algo que eu não podia mudar, eu iria estudar em uma das melhores universidades do Brasil, no curso que já fazia e amava, estaria perto do meu pai que já morava lá, teria oportunidades que talvez nunca tivesse se continuasse em Salvador. São Paulo era a oportunidade que eu tinha de viver e de viver bem.

Eu sabia que a Helena iria enlouquecer quando soubesse, sabia que ela não iria me perdoar por partir, mas eu precisava ir, precisava ir em busca dos meus sonhos e da minha vida. Resolvi que não iria me despedi eu sabia que era incapaz de olhar nos olhos castanhos dela e dizer que eu estava indo, porque não estava apenas indo embora estava a deixando para trás, deixando o amor da minha vida para trás. Meu coração se apertou quando a vi pela última vez, fiquei tanto tempo a encarando queria guardar na memória cada traço do seu rosto, queria ter o gosto do seu beijo pra sempre, queria tê-la dentro do meu abraço para sempre, queria apoiar minha cabeça do seu ombro e ter sua mão entre a minha enquanto eu respirasse, mas eu realmente precisava ir. 


Eu tinha certeza de que ela ficaria bem, que ela iria me esquecer. Eu a amava profundamente e sabia que ela me amava, mas não tanto quanto eu a amava. Por isso achei que depois que o tempo passasse eu seria apenas alguém no seu passado. Mas quando voltei para Salvador e a encontrei na sala da casa da Rafa eu tive certeza de que ela não havia me esquecido e que tanto quanto eu ela sentia saudade de nós dois. E eu me odiava por ter ido, me odiava por não ter lhe dito a verdade, por não ter ao menos me despedido.

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