quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O que sobrou de mim? - Capítulo Um


OBS: Gente essa história vai ficar transitando entre presente e passado e para vocês não se atrapalharem quero deixar explicado que as  partes que estiverem em negrito(Preto escuro) são diálogos do passado, ok?  Boa leitura! 



-Helena, por favor, preste mais atenção no que eu digo. –Dona Ana minha chefe me corrigiu pela milésima vez naquele dia.

-Desculpe, prometo prestar mais atenção da próxima vez.

Eu estava com a cabeça a mil, eu tinha acordado às 5 horas da manhã, pego dois ônibus até a faculdade e já eram 14:30hs e eu nem tinha almoçado porque peguei engarrafamento e não pude almoçar porque minha chefe era um amor  de pessoa, mas não admitia falta de atenção e atrasos.

Voltei para minha sala e comecei a digitar alguns documentos que o meu amado chefinho tinha pedido, o Eduardo era mais que meu chefe era meu melhor amigo e primo emprestado, pois Dona Ana mãe dele era esposa do meu tio Pedro e o Edu era filho somente dela. Ele era um dos advogados da GB advocacia e eu era sua assistente. Nós tínhamos 2 anos de diferença ele estava com 24 e eu com 22.

-Nena pode vim aqui na minha sala? –perguntou com aquela sua voz rouca que fazia todas as mulheres irem à loucura.

-estou indo. –falei.

Cheguei na sua sala e encontrei meu amigo sentado em sua mesa em volta de uma montanha de papeis que com certeza sobraria para mim.

-Que cara é essa Edu? –perguntei ao ver enormes olheiras por trás dos óculos.

-Não consegui dormir direito, tenho um processo que está me tirando o juízo. –disse me encarando levantando os óculos. –você também não está com a cara boa não, o que foi?

-Não almocei hoje deve ser isso, peguei engarrafamento e cheguei tarde.

-Então vamos almoçar e não me diga que não tem dinheiro porque eu pago. –disse mostrando seus dentes perfeitamente alinhado num sorriso que até mesmo em mim causava um frio na barriga.

-Eu odeio quando você me olha assim. –Disse.

-Assim como? –perguntei rindo.

-me admirando.

-não tenho culpa se você tem os dentes mais perfeitos que eu conheço. –falei rindo. –
vamos logo estou realmente com fome.

Nós fomos almoçar e eu só consegui sair porque dona Ana era a mãe mais coruja que conhecia e fazia exatamente o que o filho queria, ou seja, sair no meio do meu expediente.

-Como vai a Rafaela? –perguntei curiosa.

-de novo isso Nena?

-eu já lhe disse que se você ficar escolhendo demais vai acabar sozinho. –falei rindo.

-Não sou só eu que estou solteiro senhorita Helena. –disse sarcástico.

-pelo menos eu ainda tenho 22 anos e não 24. –falei lhe mostrando a língua como se os nossos dois anos de diferença fosse muita coisa.

-E o Jake parou de te procurar? –perguntou curioso.

-Já lhe disse que ele é apenas um amigo da faculdade. –falei.

Almoçamos e voltamos para o serviço eu realmente estava cansada aquele dia, mas mesmo assim fui para o culto era sexta-feira e minha irmã mais nova a Lara de 10 anos iria cantar pela primeira vez e eu prometi que iria vê-la.

Cheguei na igreja e o culto já tinha começado me ajoelhei e não me importei com isso e acabei fazendo uma oração bem longa não existe nada melhor que falar com Deus. Levantei e encontrei Thamy sentada ao meu lado, ela era minha amiga trocamos algumas palavras, mas como o culto tinha começado não podemos conversar como sempre fazíamos por horas. A apresentação da Lara foi linda ela cantou tão bem que nem parecia ser tão tímida e envergonhada como era.

-Tenho uma coisa para te contar. –disse, mas pelo que eu conhecia dela não era algo bom.

-O que foi que você aprontou dessa vez. –perguntei.

-Você não vai acreditar em quem está na cidade. –Falou ignorando minha pergunta e fazendo meu coração acelerar só de imaginar quem podia ser.

-Não me diga que...

-O Guga está de volta, acabou de chegar tia Fernanda me disse. –Falou.

-Como assim? –fiquei surpresa. –Ele some no mundo durante 4 anos e agora volta como se nada tivesse feito?

-A família dele mora aqui ainda se você se esqueceu? –perguntou.

-E a ex namorada que ele abandonou também, só espero que não venha atrás de mim. –disse.

O Gustavo foi o meu primeiro e único namorado, começamos a namorar eu tinha acabado de completar 16 anos e lembro que fiquei extremamente feliz quando ele se declarou para mim porque afinal ele é três anos mais velho que eu, já estava na faculdade e eu era apenas uma adolescendo estudando o segundo ano do ensino médio. Nos conhecemos num jantar na casa da Thamy que é prima dele, ele era o homem mais bonito que tinha visto na vida pele bronzeada, cabelos pretos e lisos caindo sobre a testa que só completava o espetáculo daquele rosto perfeitamente desenhado por Deus, olhos pretos com cílios enorme, sorriso perfeito com dentes brancos e alinhados que quando surgia acendia nas bochechas covinhas profundas, barba sempre por fazer e uma voz rouca que nunca deixou de causar arrepios em mim.

Eu me odiava por lembrar desses detalhes com tanto carinho mesmo sendo completamente abandonada e desprezada por ele, mesmo sendo deixada para trás como cachorro na mudança. O Gustavo me conquistou, fez eu me apaixonar, me deu esperanças de um futuro muito melhor do que um dia eu havia sonhado, me encantou com um pedido de namoro diante dos meus pastores e pais, me senti a mulher mais feliz do mundo e um sorriso sem tamanho preencheu meus lábios quando lhe disse sim, sim esse que me fez chorar amargamente quando ele decidiu ir morar em outro estado para estudar engenharia.

Eu aceitaria namorar a distância, eu aceitaria me casar com ele no mesmo dia e ir morar com ele onde quer que ele fosse, mas ele não se deu o trabalho de me informar da sua viagem, não fez questão de dizer na minha cara que eu era muito menos importante do que seu curso de engenharia. Lembro que liguei para ele naquele dia pelo menos umas cinquenta vezes e já estava ficando desesperada sem noticias quando decidi ligar para sua mãe Dona Fernanda me atendeu com a voz embargada o que só fez o meu coração apertar como nunca antes e a certeza de que algum ruim tinha acontecido preencher minha mente.

-Dona Fernanda o Guga está em casa? –perguntei querendo mais que tudo ouvir um sim como resposta.

-Ele não te contou? –perguntou surpresa.

-Aconteceu alguma coisa? –falei preocupada.

-Ele foi para São Paulo hoje de manhã vai estudar engenharia na PUC...

O celular caiu da minha mão e por sorte eu estava na cama, um rio de lágrimas tomou conta da minha face e meu coração doía como nunca antes na minha vida. Sempre soube das nossas diferenças financeiras, de idade e até de pensamentos, mas nunca achei que algum dia iria me iludir e abandonar. Ainda liguei para me certificar que ele tinha brincado com a mãe e estava na casa de algum amigo ou apenas para ouvir sua voz e alguma desculpa esfarrapada que me faria lembrar daquela separação como uma simples briga e não como um abandono.


-Helena! –thamy acenava na minha frente enquanto eu voltava para realidade.

-Quê?

-Não deveria ter dito nada, eu sabia que você iria ficar mal. –falou com tristeza.


-estou ótima. –forcei um sorriso enquanto controlava as lágrimas que queriam rolar.

***

-Nena! Helena! Acorda! –Edu gritava em minha frente.

-O que foi? –perguntei.

-O que vai fazer hoje a noite? –perguntou;.

-Vou pra casa dormi já que não tem culto.

-Não vai não, vamos num jantar na casa da Rafaela. –Falou exibindo um sorriso que eu insito em falar que deveria ser incluso como a 8ª maravilha do mundo.

-Edu eu não vou no jantar da sua pretendente porque a família dela vai achar que você é meu namorado como todos acham quando a gente sai juntos.

-Eu não perguntei se você queria ir eu disse que você vai, e a  Rafa não é minha pretendente. –falou convencido.

-Que horas? –Perguntei.

-te pego em casa ás 18:30 e por favor não se atrase. –disse deixando um beijo na minha testa e voltando para sua sala.

Peguei um vestido vermelho na altura dos joelhos com mangas, o vestido tinha a saia rodada e era bem justo na parte de cima o que desenha o meu corpo fazendo parecer que eu tinha mais curvas do que eu realmente tenho, calcei um salto baixo e  passei uma maquiagem fraca assim que passei perfume ouvi a buzina do carro do Edu, peguei minha bolsa e o celular e dei um beijo na minha mãe que assistia no sofá.

-Diga para o Edu da próxima vez entrar pra comer alguma coisa. –falou quando eu abria a porta.

-Mãe, o Edu já é folgado demais , mas eu digo sim.

Chegamos no condômino de luxo onde a Rafaela morava e eu grudei no braço do Edu enquanto subíamos o elevador porque eu tenho medo. Assim que chegamos em frente ao elevador o Edu pareceu ficar nervoso o que fazia ele concertar os óculos a cada segundo enquanto esperávamos para que alguém abrisse a porta.

-Para de mexer nesses óculos! –ordenei. –Se ela não gostar de você é porque é uma boba, você é o cara mais incrível que eu conheço então pare de nervosismo!

Ele provavelmente me daria um sermão por reclamar com ele diria que não deixaria eu segurar seu braço para descer no elevador, mas a porta se abriu  e uma Rafaela sorrindo radiante murchou o sorriso ao meu ver do lado do Edu.

-Oi pessoal. –falou educada.

-Oi Rafa! –falei lhe dando um abraço sem me importa que ela provavelmente tinha odiado minha presença ali porque não existia a mínima possibilidade de existir algo entre Eduardo e Helena.

Entramos e além de nós dois tinha quase umas trinta pessoal espalhadas pela enorme sala de estar da casa dela. Sentei ao lado do Edu e segurei sua mão enquanto a Rafaela ia buscar refrigerante para nós dois.

-pare de ficar nervoso, ela já gosta de você. –falei segurando a mão gelada do Edu que gaguejava mais que tudo  ao responder as perguntas da Rafaela e de sua amiga Letícia que não parava de me encarar.

-Eu não consigo! –disse sincero. –Eu não sou muito sociável lembra?

-Edu, deixe de bobagens... –Fui interrompida pela chegada da Rafaela.

Eles entraram em uma conversar empolgada sobre algumas series de nerds que eles assistiam e enquanto isso eu tentava bater meu Record num joguinho que tinha baixado no meu celular para passar o tempo. A campainha tocou e eu assim como a maioria ali voltei minha atenção para porta enquanto a mãe da Rafa foi atender.

A porta abriu e atrás dela tinha o homem que bagunçou toda minha vida e quebrou meu coração em mil pedaços. Ele vestia calça jeans escura, sapato preto e uma blusa social três quartos azul marinho que era sua cor favorita ele entrou depois de cumprimentar a mãe da Rafaela e pareceu bastante intimo dela, quando a mãe apontou onde estava a filha, meu coração bateu completamente acelerado era a primeira vez em quatro anos que o via.

-Tchau amor! –falou pela décima vez desde que tinha me deixado na porta de casa depois de voltarmos do culto.

Percebi tristeza em seu olhar nós já tínhamos dois anos juntos e eu o conhecia maravilhosamente bem.

-Aconteceu alguma coisa? –Perguntei preocupada enquanto seus olhos pretos me encaravam.

-Não, só quero dizer que te amo! –falou me abraçando, um abraço carregado de sentimento e eu senti um aperto tão grande no coração ao imaginar algum dia viver longe daquele abraço.

-Eu também te amo! –disse ainda abraçada a ele.

Soltamos-nos do abraço e ele me beijou de uma forma desesperada e ao mesmo tempo com carinho e paixão.

-Nunca duvide do meu amor você, mesmo que algum dia eu te faça mal saiba que eu te amo. –Falou segurando meu rosto entres mãos e tornou a me beijar.

Eu ficaria preocupada se ele não agisse assim sempre, mas era o jeito dele, ele era carinhoso, gentil, cavalheiro eu nunca iria imaginar que no dia seguinte aquele homem que me jurou amor iria embora sem nem ao menos se despedir.

-Você está bem Nena? –Edu perguntou.

-Não, eu não estou nada bem. –Falei com a voz embargada enquanto percebia que o 
Gustavo caminhava em nossa direção.

Edu olhou  para onde meus olhos estavam fixos e viu o Gustavo tão surpreso quanto eu caminhando em nossa direção.

-Já entendi. –Edu falou segurando minha mão. –Desculpa Rafa, mas precisamos ir ela não está bem. –Edu falou me puxando.

-Tudo bem, me ligue se precisar de algo. –Ela falou sentida e eu fiquei extremamente chateada por atrapalhar o quase encontro do meu amigo.

Edu me puxou pelo braço e passamos pelo Gustavo na velocidade da luz antes que ele tivesse chances de falar algo, mas ainda assim senti seu perfume o mesmo de sempre e as lembranças me atingiram em cheio.Dentro do elevador segurei o  braço do Edu  e fechei os olhos eu estava tentando controlar todas as recordações que aquele par de olhos pretos me trouxeram. Eu queria chorar, gritar e sair correndo sem rumo, mas eu não podia fazer nada disso eu tinha que me controlar.

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